sexta-feira, 4 de julho de 2014

A dor na infância

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"Meu pé de laranja lima" foi o primeiro livro que li, acho que lá pelos 9 anos. Nem sei mesmo se foi, mas minha lembrança se apegou a este fato e sempre considerei que foi meu primeiro livro...rsrs! Ainda tenho passagens inteiras dele gravado na memória, mesmo sem tê-lo relido depois. Assisti ao filme nos cinemas no ano passado, mas confesso que não gostei da interpretação do "Zezé", que tem toda uma riqueza emocional. Zezé, em meio a todas as suas travessuras típicas da infância, convivia com uma "dor de adulto", que o chamava para uma realidade dura e que parecia querer deter sua infância, sua alegria, suas travessuras... vou parar aqui, pois a lembrança desse livro me emociona muito! Não lembro mais a professora que me fez ler o livro, mas a agradeço muito, pois, nem que seja quando adultos, reconhecemos que a infância, por mais feliz que seja, tem sempre um lugar onde guardamos um pouquinho de dor!

(José Henrique P. e Silva)

O caminho da autonomia!


Foto: "Libertad". Obra de artista, Zenos Frudakis.
Hummm...deixa eu ver em que estágio estou...rsrsr! Acho que dependendo do momento e do aspecto em questão entamos emparedados, lutando ou se libertando... Como não acredito muito em algo que seja "total" ou "pleno", é bom atentar mesmo para onde está indo nosso olhar...!

(José Henrique P. e Silva)

Amamos o que está distante!

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Uma boa noite... e sim, temos esse maravilhoso talento de querer e admirar o que está distante! Imaginamos enxergar uma luz, construímos um caminho de fantasias, escrevemos algumas letras e sentimos no coração...pronto... chegamos lá!!!

(José Henrique P. e Silva)

Aceleração e Depressão!


Essa questão levantada pela Maria Rita Kehl é interessante e pode ser aplicada a várias situações: Numa época que vende-se como nunca a felicidade e somos cada vez mais depressivos; fala-se tanto em ética e a corrupção alcança proporções inimagináveis; defende-se a paz e a violência extremada se banaliza em todos os cantos; difunde-se a vida saudável e a obesidade e outras doenças se tornam avassaladoras... Enfim, como entender isto? Pra que lado devemos olhar para entender o que está acontecendo, para a publicidade que nos vende a felicidade, ou para nosso mundo psíquico e nos depararmos com nossos limites? Não à toa essa sensação de vazio e inadequação que tantas pessoas sentem hoje em dia!!!

Tratamento psicanalítico não é "teoria aplicada"!

Em dez/2010, na revista Cult, a psicanalista Maria Rita Kehl, em entrevista, nos falou de seu gosto pela polêmica, sua fobia em seguir dogmas e, poder pensar sem tantas amarras acadêmicas. Um exemplo disso está em sua recusa em escrever "lacanês". Pessoalmente acho isso, acima de tudo, um respeito ao pensamento e ao leitor. Mas, é uma questão de estilo e respeito quem pensa o contrário. Na entrevista ela falou sobre a clínica psicanalítica em seu dia a dia e nos lembrou, de forma bem acertada, que mesmo com toda a teoria na cabeça do psicanalista cada paciente novo é um novo começo, do zero. Afinal, A PSICANÁLISE OPERA ENTRE A FALA DO PACIENTE E A ESCUTA DO PSICANALISTA. Daí a necessária humildade, pois NÃO SE TRATA DE "TEORIA APLICADA". O profissional que almejar isto, certamente vai encontrar dificuldades em obter êxito nos tratamentos. Por isso, a fantasia do paciente em esperar por 
"conselhos" afunda!!!

José Henrique P. e Silva

Não há tédio na clínica psicanalítica!


Em entrevista em dez/2010 (Revista Cult), a psicanalista Maria Rita Kehl nos lembra também da "potência política" que o tratamento analítico possui. Isso decorre do fato de que o final de uma análise vai sempr no sentido de um COMPROMISSO DO SUJEITO COM SEU DESEJO. Ora, isto é cômico e trágico, ao mesmo tempo. Trágico pela constatação da premanente presença da "falta", e cômica porque quando o sujeito se depara com a fantasia que sempre sustentou sua neurose passa a se ver diante de algo que lhe parece, agora, muito simples, e percebe o quanto foi um "escravo voluntário" das pretensões de seu superego, por exemplo. É nesse sentido que não há tédio na clínica psicanalítica. Há, sim, sempre um processo de descoberta. Esse par analítico (paciente e analista) é rico em possibilidades e descobertas. esta é a grande potência política da psicanálise: o COMPROOMISSO DO SUJEITO COM SEU DESEJO!!!

(José Henrique P. e Silva)

Um pouco sobre o autismo e as "brechas" com o mundo externo

Foto: UM POUCO SOBRE O AUTISMO E AS "BRECHAS" COM O MUNDO EXTERNO

O diagnóstico do Autismo tem crescido muito nos últimos anos. De um lado este diagnóstico se aperfeiçou e, de outro lado, se banalizou. Mas, isso não esconde o fato de que o autismo é uma demanda a ser observada com muita atenção. A psicanálise, por exemplo, tem caminhado cada vez mais em direção ao estudo dos estágios iniciais da vida e isso tem aberto inúmeras possibilidades de tratamento. Os pais que possuem crianças autistas sabem exatamente o drama que a condição impõe ao conjunto da família. Trata-se de uma "AUSÊNCIA NA PRESENÇA", que é fonte de angústia para os familiares. A criança está ali, mas não está. Entretanto, o senso comum ainda vê o autista como ser absolutamente "alienado", que "constrói um mundo só para ele". Esta é uma noção que parece "acalmar" quem a formula e acredita, fazendo parecer que, mesmo "ausente", o autista está em um razoável nível de "segurança". Pensar assim atenua a dor de quem está do lado de cá, embora essa "segurança" não seja assim tão clara, pois o autista está sempre no limite entre um mundo externo que lhe é ameaçador, e um mundo interno do qual tenta fugir, sem conseguir. São poucas as "brechas" que possui para o contato com o mundo externo e são estas BRECHAS que precisam ser exploradas e alimentadas pelo tratamento psíquico e pelos familiares.

(José Henrique P. e Silva)






O diagnóstico do Autismo tem crescido muito nos últimos anos. De um lado este diagnóstico se aperfeiçou e, de outro lado, se banalizou. Mas, isso não esconde o fato de que o autismo é uma demanda a ser observada com muita atenção. A psicanálise, por exemplo, tem caminhado cada vez mais em direção ao estudo dos estágios iniciais da vida e isso tem aberto inúmeras possibilidades de tratamento. Os pais que possuem crianças autistas sabem exatamente o drama que a condição impõe ao conjunto da família. Trata-se de uma "AUSÊNCIA NA PRESENÇA", que é fonte de angústia para os familiares. A criança está ali, mas não está. Entretanto, o senso comum ainda vê o autista como ser absolutamente "alienado", que "constrói um mundo só para ele". Esta é uma noção que parece "acalmar" quem a formula e acredita, fazendo parecer que, mesmo "ausente", o autista está em um razoável nível de "segurança". Pensar assim atenua a dor de quem está do lado de cá, embora essa "segurança" não seja assim tão clara, pois o autista está sempre no limite entre um mundo externo que lhe é ameaçador, e um mundo interno do qual tenta fugir, sem conseguir. São poucas as "brechas" que possui para o contato com o mundo externo e são estas BRECHAS que precisam ser exploradas e alimentadas pelo tratamento psíquico e pelos familiares.

(José Henrique P. e Silva)
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Essa frase é muito legal. Quer um exemplo disso? As vezes pensamos que só o que nos deixa felizes é o que está "lá fora" (compras, passeios, viagens, restaurantes, amigos, shows etc. etc. etc.) e tudo isto é maravilhoso mesmo mas, e quando não podemos? Aí a questão é se "contentar"? Não!!! A questão é uma mudança de olhar. Eu mesmo aprendi um pouco a respeitar isso quando, nos feriados prolongados, por exemplo, o "mundo" parece deixar a cidade e, de repente, passo a curtir coisas bem simples que estão por ali, pertinho... que dependem mais de um olhar atencioso que de ações mirabolantes... É aquela coisa de estar feliz com o "momento" e não com a "coisa". Isso nos faz deixar de precisar buscar tanto, tanto, tanto, tanto...!!! Nosso universo interior é muito rico em possibilidades, só precisamos assumir isso como um fator de felicidade!!!

(José Henrique P. e Silva)

Uma nova chance!


Que bom que, as vezes, o mundo se permite dar voltas... pode ser uma chance a mais né? Um reencontro! Uma nova possibilidade! Um novo começo! Só temos que, ao voltar, encontrar o ponto de partida e, quem sabe, pegar um atalho ou outra trilha...!!! Não é pra ter medo não...medo mesmo só da repetição, esta sim é perigosa, paralisante!!! 

(José Henrique P. e Silva)

A dor que fingimos não sentir!

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Parece fácil e tentador dizer: "então não finja!!!"....Infelizmente não é tão simples assim...Em algum grau, com análise ou sem análise, todos nós somos um pouco fingidores... Lembram de Fernando Pessoa e o seu "poeta fingidor"? Pois é, todos somos um pouco poetas... e fingidores, especialmente na arte de sentir a dor com um sorriso estampado!!! Somos fortes até pra isso!!! Então...podemos bem mais!!!

(José Henrique P. e Silva)

Chistes: Uma piada nem sempre é so uma piada!

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Com os "chistes" (sentimentos prazerosos com piadas e gracejos) aprendemos que uma piada nem sempre é só uma piada. Podemos sorrir e nos satisfazer com uma piada pelo próprio jogo de palavras que ela traz, mas existem casos em que a piada "sacode" o nosso inconsciente, seja quando formulamos a piada, seja quando simplesmente obtemos um forte prazer em escutá-la. É como se ela desse vazão a alguns desejos que podem ser de várias ordens (agressivos, preconceituosos, etc.). É uma forma, então de expressarmos aquilo que não conseguimos manifestar pela via "racional", do consciente puro e simples. São momentos em que perdemos um pouco de nosso "filtro" social e nos revelamos mais intimamente... embora para a grande maioria, tudo não passe de uma simples reação à piada! Nesse sentido, o chiste é um dos caminhos através dos quais o inconsciente se manifesta. Não, definitivamente, uma piada, as vezes, não é simplesmente uma piada! Não à toa o humor, de forma geral, é visto como um mecanismo para deixar a vida mais leve, pois libera conteúdos que não nos sentimos bem em falar sobre eles...mas, justamente por isso, pode trazer consequências sociais desagradáveis!!!
(José Henrique P. e Silva)

terça-feira, 24 de junho de 2014

Quando dois não conseguem ser "um!


- O grande conselho que ela dava era o de nunca se deixar consumir pelo amor romântico. Para ela, as amizades e o seu trabalho foram o que sempre lhe trouxeram maior felicidade;
- Concordo plenamente. É isso que fode a gente não é? Essa ideia de alma gêmea, alguém que vem nos completar e nos salvar de ter que cuidar de nós mesmos;
- Cada um, afinal, deve cuidar um pouco de si mesmo, com algum espaço no meio, para os dois;

(Adaptado do filme "Antes da Meia Noite").

Pois é, quem amamos é a nossa "alma gêmea"? Confesso que não curto muito esse conceito. "Alma gêmea" é mais a expressão de um desejo que temos de que o outro nos complete totalmente em nossas necessidades e faltas. Na prática, as coisas parecem não funcionar tão assim e cada um de nós tem de estar mesmo preparado para cuidar um pouco de si, independente de quem ama. Precisamos do outro sim, mas não podemos construir a fantasia de uma completude que nos anula. Não é fácil, e acabamos deixando que a fantasia da "alma gêmea" nos desvie a atenção de que um relacionamento exige muito esforço de construção. E aí acabamos pagando um preço muito alto com muitas decepções e angústias. Talvez essa seja uma daquelas questões "insolúveis", ou seja, sabemos que jamais seremos "um só", mas não abriremos mão desta fantasia. Mas, não é este o papel da "fantasia"? Nos oferecer um pouco de consolo diante da "realidade"!!! Talvez por isso, para cada um que anuncia o fim do "amor romântico", um outro casal apaixonado surge!!! Só chamo a atenção para a última frase do diálogo acima, pois o "amor" deve ocupar justamente aquele espaço no "meio", deixando um pouco de si para cada um!!!

Coisas de Casal!

No início tudo pode parecer bem simples e nada parece exigir tanto esforço assim. Muitas vezes, mesmo se considerando correto, um acaba cedendo ao outro, pede desculpas, assume um erro, ouve desaforos calado etc. Tudo em nome de uma suposta "paz" e de um "viver bem". No início, é bem verdade, isso parece não tomar muita energia, não suga muito, não exige demais, ninguém se importa tanto. Podemos até nos sentir melhores, mais generosos, mais fortes. Pode ser! Mas, se isso se torna recorrente, e vira um hábito ao longo do relacionamento, algo de muito complicado começa a se instalar na relação, que fica muito "desigual". Um se acostuma a não se movimentar para mudar, e outro se acostuma a ceder e pedir desculpas. Pronto! Está semeada a possibilidade de algo muito sério vir a acontecer abalando o relacionamento. O que se perdeu no meio de tudo isto foi a capacidade do DIÁLOGO. A capacidade da generosidade de ouvir, a capacidade de se respeitar, mesmo diante do erro do outro. No final, pode-se ter alguém que se pretenderá onipotente, e outro alguém que se colocará como servo. Nada bom! Pouco promissor!

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Explosões!



Existem explosões cujo som é tão estrondoso que somos capazes de jurar que aconteceu algo no interior mesmo de nossa cabeça. Explosões cujos destroços são tão vastos que se imagina logo pedaços do próprio corpo se espalhando, numa fragmentação total.

Mas, passados alguns instantes, abrimos os olhos lentamente e percebemos que ainda temos um corpo, conseguimos raciocinar, dar novos passos, levantar um pouco mais a cabeça e notar que o que explodiu mesmo foi aquele muro que tínhamos construído, dia após dia, ao longo de tantos anos.

Não é fácil levantar e sair dali, existem destroços por todo lado, a poeira toma conta do ambiente dificultando uma boa visão, as pernas ainda cambaleiam e batem em obstáculos pelo caminho, mas estamos um pouco mais determinados a caminhar, seguir em frente, e experimentar aquilo que antes só habitava nossos pensamentos e, pior, nossos sonhos.

Nada é certo, nada é tão seguro mas, dotados desta nova vontade de caminhar, assumimos uma nova certeza: aconteça o que acontecer... estaremos vivos!

(José Henrique P. e Silva)

A psicose e o "outro"

No tratamento da psicose é necessário lembrar que o paciente não lida com o simbólico, ou seja, com aquilo que se pode representar, sendo preciso, constantemente, "nomear" para que ele possa ir refletindo e tentando encontrar "sentido" em suas ações e na sua relação com o outro. Com isso ele pode ir se dando conta, gradativamente, do lugar e da importância da "palavra", pois com ela poderá simbolizar e representar. Isso é uma alternativa ao fato de ele sempre encontrar "o mesmo" (aquele que está marcado por um traço ruim) na sua relação com o outro.

Caminhando no pântano!

Costumo imaginar que nossos pacientes quando chegam à clínica sentem-se como se estivessem caminhando num pântano. Talvez seja por isto que não há um dia que não tenha que conversar um pouco sobre a necessidade e as vantagens de se encarar de frente os riscos que a vida nos proporciona, e é inevitável, vez por outra, vir aquele desejo de como seria bom um pouco de controle sobre o futuro e as decisões que ele nos obriga a tomar. Mas, pura ilusão! Existem momentos mesmo onde tudo é pântano!!! Disso não se consegue escapar! Porém, vale se questionar: como se caminha em um pântano? Trocando o calçado, caminhando mais lentamente, desviando um pouco o olhar do futuro e olhando mais aqui pertinho, e ficando muito atento aos desequilíbrios que podem nos fazer cair pelo caminho. Precisamos saber fazer isso! É um dos nossos grandes desafios, e na maioria das vezes temos habilidades e recursos psíquicos para isso, só ainda não sabemos mesmo descobri-los utilizá-los! Essa é uma das possibilidades que a análise pode trazer como benefício!!!

domingo, 22 de junho de 2014

A depressão e a queixa contra o outro!

É claro que na depressão estamos sempre nos queixando de nós mesmos, numa eterna auto-depreciação, perdidos numa vida sem vigor algum. Mas, o que está quase sempre oculto aí é uma "raiva" em relação a um "outro", a algo que "perdemos", a algo que julgamos merecer e não recebemos. A depressão, então, é uma operação em que temos um ego ferido, incompleto, pouco amadurecido e vazio e, diante disso, transferimos para o outro a responsabilidade por nos tornar completos e preenchidos. Por isso idealizamos o outro, mas como ele não nos completa, desenvolvemos uma agressividade permanente, na mesma proporção que nos desvalorizamos. Quando depressivos sofremos, então, de uma "ferida narcísica". Não nos reconhecemos e passamos a exigir do outro uma recompensa. Não à toa quando nos encontramos em um estado depressivo causamos certa intolerância em quem está ao nosso redor, pois nosso nível de exigência e insatisfação é sempre muito alto!!!

Somos sujeitos biológicos, psíquicos, sociais e históricos!

Por vezes luto contra a ideia de de uma excessiva medicalização do corpo justamente por entender que nossa natureza, enquanto serem humanos vai muito além de uma ideia de um organismo biológico. Somos mais que isso. Sofremos, além das influências biológicas, de influências sociais e históricas, além de nossa constituição psíquica individual. Somos serem complexos, em constante interação com o que está ao nosso redor, com nosso corpo e com nossa história. Somo como um sistema aberto, sujeitos a um fluxo constante de energia e informação. O contrário disso seria o anacronismo, o estático, o não-dinâmico. Por isso, ao cuidar do corpo não há como deixar de lado as questões sociais e subjetivas às quais estamos submetidos. De fato, não sou um mero amontoado de genes!!! Sou o que minha genética me ofereceu, o que as pessoas ao meu redor me permitiram, o que a época em que vivo me indicou e sou, acima de tudo, o que faço com tudo isso psiquicamente.

Thoureau e o retorno à natureza!


"Um homem é rico em proporção às coisas que se permite deixar de lado" 
(Henry D. Thoureau)

Thoureau foi um escritor norte-americano que, em meados do século XIX, escreveu um belíssimo livro ("Walden") onde nos chamou a atenção para a importância de um "retorno à natureza". Em 1845 abandona a cidade e parte para o Lago Walden (Massachusetts). Foi um momento em que indignou-se contra a vida agitada e competitiva das grandes cidades. Nos dois anos que viveu no Lago Walden fez fortes apelos à qualidade de vida e à simplicidade. Dizia que precisávamos do "tônico selvagem" e sempre definiu esta sua jornada como uma busca pelo "eu-único", tanto na sua integração com a natureza, quanto na percepção de quem somos de fato. Não se trata de fazer o homem "desaparecer" na natureza, mas de realçar sua singularidade em meio à natureza. Só a "simplicidade" nos permitiria esse movimento. Longe, então, de ser algo "menor", a simplicidade seria intelectualmente excitante, possibilitando que o homem se perceba no mundo, reconhecer-se. A natureza, com Thoureau, surge como a medida da vida. Seria na relação com a natureza que poderíamos nos perguntar: estou vivo ou morto? Thoureau nos deu uma excelente possibilidade de entender o papel da natureza e da simplicidade para nos percebermos como sujeitos nesse mundo!!!

sábado, 21 de junho de 2014

A "voz" que o psicótico escuta!

Todos sabem que algo muito característico das situações de psicose é o fato de se escutar "vozes". Mas, que "voz" é esta que o psicótico (paranóico, esquizofrênico etc.) escuta e que lhe parece assombrar? Esta voz é resultado de um "processo de psicotização". Como isso ocorre? De forma geral, na psicose, o indivíduo quando diante de uma determinada situação específica (traumática) pode vir a considerá-la insuportável e, a partir daí, tentar "defender-se" expulsando essa ideia de si mesmo. Essa "expulsão" da ideia diminui sua angústia mas o custo disso é amputar uma parte de si mesmo, ou seja, alienar-se em relação à realidade, desligar-se, como se passasse a viver em "outro mundo". É nesse sentido que, para continuar sobrevivendo acaba por desenvolver alucinações e delírios na tentativa de compor uma nova realidade mais suportável. Assim, a "voz" que escuta é resultado de seus delírios e alucinações, é sempre um pedaço de si mesmo que foi pretensamente "expulso" e que, parece vir de "fora", como se fosse uma voz tirânica que o domina. Mas, na realidade, a "voz" é um pedaço seu, é a voz do seu próprio inconsciente, lembrando-o, de forma assustadora, daquilo que foi insuportável para ele.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O que marca é eterno!

"Na convivência, o tempo não importa. Se for um minuto, uma hora, uma vida. O que importa é o que ficou deste minuto, desta hora, desta vida. Lembra que o que importa é tudo que semeares, colherás. Por isso, marca a tua passagem. Deixa algo de ti, do teu minuto, da tua hora, do teu dia, da tua vida". (Mário Quintana)

Foto: Na convivência, o tempo não importa. Se for um minuto, uma hora, uma vida. O que importa é o que ficou deste minuto, desta hora, desta vida. Lembra que o que importa é tudo que semeares, colherás. Por isso, marca a tua passagem. Deixa algo de ti, do teu minuto, da tua hora, do teu dia, da tua vida.

Mário Quintana

Acho isto fantástico porque nos perdemos muito diante da busca do que é eterno e esquecemos que aquilo que será sempre eterno é o que conseguirmos deixar nossas "marcas" e que, simultaneamente, nos deixa "marcas"... marcas que irão compor nosso rol de lembranças e saudades...!

(José Henrique P. e Silva)

Falo de mim quando falo do outro!

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Por isso aquela regrinha é sempre válida: quando falo muito outro acabo falando ainda mais de mim mesmo! Não há como falar as coisas como elas "são"... falamos das coisas como "nós somos"!!!

(José Henrique P. e Silva)

Ilusão de Controle

Foto: “Qualquer curva de qualquer destino que desfaça o curso de qualquer certeza.” (Arnaldo Antunes)
Alma hippie

Não dá para escapar, então porque temer tanto os atalhos? Imaginar que podemos ter o controle de tudo dói muito!!! (José Henrique P. e Silva)

O estranho que encanta!

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Acredito que é sempre algo estranho que nos encanta, aquilo que destoa, que escapa à simetria, que é único, que se destaca por ser diferente...talvez por isso, hoje em dia, quanto mais as pessoas buscam ser "iguais" menos elas se tornam "atraentes"...É essa coisinha pequena e estranha, mas que encanta, que faz todo o resto ficar lindo! (José Henrique P. e Silva)

O narcisismo que me impede de reconhecer o outro!


Na versão tradicional do mito, Narciso nasceu de uma indesejada e difícil gravidez, e no dia de seu nascimento um adivinho previu que teria vida longa desde que jamais contemplasse a si mesmo. Assim, mesmo possuidor de uma beleza incomparável não cedia aos amores das mulheres. Para os gregos tratava-se de um "entorpecimento" que simbolizava a vaidade e a insensibilidade.

Na psicanálise, esse entorpecimento emocional, em certo momento da vida, é importante para o desenvolvimento da autoestima. Mas, quando a criança fixa-se nesse estágio desenvolve uma negatividade em relação aos outros, um "voltar-se para si mesmo", um senso de "bastar-se a si mesmo" e está à beira da arrogância. Ou seja, O NARCISISMO SE TORNA PATOLÓGICO QUANDO IMPEDE O AVANÇO EM DIREÇÃO AO OUTRO. Nesse aspecto, somos uma sociedade fortemente narcísica, pois está cada dia mais difícil reconhecer o outro nas suas diferenças. Narcismo, então, é algo muito maior do que simplesmente "orgulho próprio", "segurança" e "vaidade"... é algo que nos força a viver sozinhos, na fantasia de que nos bastamos ou que somos melhor que os demais!!! É um terreno bom para se pensar e conversar.

A neurose obsessiva é uma estratégia masculina?

Durante muito tempo se associou a histeria à mulher e a neurose obsessiva ao homem. Sabemos que esta regra não é tão rígida assim. Mas, como "solução" ou "estratégia" vemos que as mulheres se utilizam mais da histeria e os homens da neurose obsessiva. No caso da neurose obsessiva, por exemplo, ela tem uma forte lógica fálica, ou seja, a questão do "TER" é fundamental. Não à toa o homem atribui muito valor a "ter" isso ou aquilo, sempre o melhor, o maior, o mais novo, em mais quantidade, enfim, como se estivesse numa permanente disputa. O pano de fundo é a tentativa que faz em ao "ter" mais poder tapar o buraco que a falta lhe faz. É a posse do objeto que lhe dá a sensação de segurança e atenua seu desejo. Isso os homens fazem bem melhor que as mulheres, sem dúvida alguma. Por isso são muito mais obsessivos!!!

A angústia e o prazer da comida!


A tarde está quente, abafada, o ruído dos carros é insuportável. parecem passar aos milhares e sempre em alta velocidade. Me irrito facilmente com esses que, cada vez mais, andam pelas calçadas olhando somente para seus celulares. Um esbarrão aqui, outro ali. O terceiro já esbarro de propósito. Ando a passos largos e acelerados, cada vez mais acelerados. problemas se acumulam, decisões precisam ser tomadas. Com quem conversar? Nem eu mesmo entendo tudo o que tenho que pensar e decidir. A sensação de estar sozinho é tremenda. Quando vejo, estou sentado em uma lanchonete. Peço umas besteiras, um refrigerante. As pernas não param de balançar, as mãos sempre inquietas. Chega o lanche na mesa e ele é devorado de forma rápida, engolido praticamente sem resistências. Há uma ânsia por preencher o estômago. O refrigerante, supergelado, é bebido rápido. Tem que provocar alguma sensação. Ao final, o resultado é sentir-se "cheio", "pesado", "preenchido".

Então...

Quantas vezes não fazemos isso no dia a dia e depois não sabemos bem porque perdemos o controle sobre o peso e a saúde? Estamos falando de uma angústia que exige um reparo, um preenchimento; de uma ansiedade que exige ocupar a mente e o corpo com algo que nos faça pensar em qualquer outra coisa...e a comida serve bem a tudo isto. Ela nos oferece um "prazer" que não estamos conseguindo de outra forma!!!

Um olhar que deixa tudo um pouco mais nítido!

O vídeo abaixo é da música "Perfect Sense" (Roger Waters) que nos fala de um olhar sobre nossa vida a partir de outra perspectiva. Um olhar que vem lá de cima, do espaço. Um olhar que traz uma grande possibilidade de enxergar as coisas por aqui, com maior clareza. A música traz inúmeras referências à nossa incapacidade de enxergar as coisas simples e de nos apegarmos ao preconceito, ao ódio e à ignorância. A música também faz referências diretas ao filme "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (Stanley Kubrick). Acho mesmo que, se pudéssemos olhar lá de cima, por um instante sequer, tudo pareceria... perfeitamente claro. Aqui, de baixo, por outro lado, estando muito próximos de tudo o que nos rodeia, nossa visão parece ficar obscurecida por nossos preconceitos. É um grande desafio a superar. Enfim, bela banda, bela música, belo filme...!!!


A Lua e o "Mar dos Desejos"

Símbolo de um profundo romantismo, a Lua também possui outros significados, entre os quais o de algo "obscuro", "desconhecido", que ao mesmo tempo atemoriza e fascina. Quando o Pink Floyd deu o nome de "Dark Side of the Moon" a seu álbum lançado em 1973, deu ainda mais destaque a este "lado escuro" da Lua. Um lado que, contrastando com sua face iluminada e sempre visível, pouco desperta o interessa dos mais românticos. Mas, é interessante que, devido aos seus movimentos e aos da Terra, esse "lado escuro" permaneça sempre invisível aos nossos olhos, embora saibamos que ele está lá, sempre representando a face desconhecida e praticamente inalcançável da Lua. É este "lado escuro" que também me fascina, pois está clara sua associação com o "inconsciente", aquele nosso "lado escuro", desconhecido, que também nos atemoriza e nos fascina. Não é à toa, talvez, que um dos mares localizados neste "lado escuro" da Lua foi denominado pelos cientistas de "mar dos desejos". Ora, nada mais apropriado que situar o mar dos desejos no lado escuro, afinal, nossos desejos mais profundos não estão em nosso inconsciente?

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O "cuidar compulsivo" no tratamento a doentes terminais


Um estado patológico "interessante" é aquele que surge em algumas pessoas que, quando estão "cuidando" intensivamente de uma pessoa muito doente, praticamente, "desejam" a sua morte. Trata-se, evidentemente, de um desejo inconsciente. É diferente daquelas situações onde, de forma consciente, sabemos que o fim da pessoa está próximo e acabamos torcendo para que sua morte venha como um "alívio" para ela mesmo. Mas, nesses casos patológicos de que falei, o comportamento é diferente. Há relatos do tipo: "tenho muito medo que aconteça algo e ele(a) morra". E, com base nesse "medo obsessivo" a pessoa acaba desenvolvendo um "cuidar compulsivo". É aí que pode surgir a patologia mostrando que essa vontade excessiva de "cuidar" pode ser uma reação àquele "desejo oposto" de que a pessoa, enfim, morra. Mas, por que, então, "cuidar" tanto? O cuidar em excesso, nesses casos, viria como resposta ao sentimento inconsciente de culpa gerado pelo desejo de morte. "Estar perto" do doente é necessário para justamente evitar ideias obsessivas que podem revelar o desejo de fazer algum mal. Bem, mas isso é só uma hipótese, que pode ser aplicada em casos específicos que acontecem de vez em quando e que, como profissionais, precisamos estar atentos!!!

Sobre o "entorpecimento" e o tempo cíclico

O "entorpecimento" é uma das características que o indivíduo assume em alguns estágios da depressividade ou num momento de tristeza mais acentuada. Implica num certo desligamento em relação à realidade, numa ida em direção a um lugar carente de relações com os outros e com os objetos. Um lugar onde estas relações perderam grande parte do interesse, e pouca libido é destinada para esse fim. Há uma quase "esterilidade", algo muito pouco útil do ponto de vista das relações sociais. 


Não é a "morte", mas uma "queda" em relação àquele tempo "linear" que hoje, por exemplo, na pós-modernidade, está bem claro na forte exigência de sermos felizes a todo instante. É esse tempo linear (onde somos permanentemente "felizes") que dá lugar a um tempo "cíclico" (onde a "tristeza" se faz presente com legitimidade), que implica uma ruptura, uma queda, uma depressividade. Não é a morte, nem é um abismo que nos suga, indefinidamente. É uma queda, normal e comum a todo ciclo que, pode se esgotar e revelar uma "transição", um "renascimento". 

Ficar triste, sentir-se sozinho, não encontrar paz mesmo no contato com outras pessoas queridas, parecem ser sentimentos que ganham relevância para muitas pessoas em determinados momentos. As vezes, só precisamos mesmo sair do tempo linear e não nos obrigarmos a fazer aquilo que não podemos. Talvez estejam exigindo que sejamos mais felizes do que podemos agora, nesse momento. Se percebermos isso e não nos obrigarmos a tudo poderemos enxergar que pode ser só um momento, uma transição, uma pequena queda. E aí, percebendo isto, podemos até continuar um pouco tristes, mas não abriremos mão de dar uma chance para o próximo dia amanhecer. Ele trará novas possibilidades! 

Este entorpecimento de que falo não é quele que permeia toda a "típica" depressão, com duração longa e profundidade acentuada, como no exemplo do que acometeu o personagem do álbum The Wall (Pink Floyd), onde o tema do "entorpecimento" percorre todas as músicas. Mas, insisto, não se trata de um diagnóstico fácil pois cada vez mais as depressões estão "sorrateiras" e as tristeza cada vez mais "profundas"...como se estivessem se "normalizando" e evitando as grandes "quedas"!!!


Foto: SOBRE O "ENTORPECIMENTO" E O TEMPO CÍCLICO

O "entorpecimento" é uma das características que o indivíduo assume em alguns estágios da depressividade. Mas, o que significa "entorpecimento"? De imediato, implica num certo desligamento em relação à realidade, numa ida em direção a um lugar carente de relações com os outros e com os objetos. Um lugar onde estas relações perderam grande parte do interesse, e pouca libido é destinada para esse fim. Há uma quase "esterilidade", algo muito pouco útil do ponto de vista das relações sociais. Não é a "morte", mas uma "queda" em relação àquele tempo "linear" que hoje, por exemplo, na pós-modernidade, está bem claro na forte exigência de sermos felizes a todo instante. É esse tempo linear que dá lugar a um tempo "cíclico", que implica uma ruptura, uma queda, uma depressividade. Mas, se não é a morte, também não é o "abismo", aquele que nos suga, indefinidamente. É uma queda, normal e comum a todo círculo, a todo ciclo que, ao se esgotar, revela uma permanente "transição", um permanente "renascimento". 

Ficar triste, sentir-se sozinho, não encontrar paz mesmo no contato com outras pessoas queridas, parecem ser sentimentos que ganham relevância para muitas pessoas em determinados momentos. As vezes, só precisamos mesmo sair do tempo linear e não nos obrigarmos a fazer aquilo que não podemos. Talvez estejam exigindo que sejamos mais felizes do que podemos agora, nesse momento. Se percebermos isso e não nos obrigarmos a tudo poderemos enxergar que pode ser só um momento, uma transição, uma pequena queda. E aí, percebendo isto, podemos até continuar um pouco tristes, mas não abriremos mão de dar uma chance para o próximo dia amanhecer. Ele trará novas possibilidades!!!

A imagem abaixo é uma referência direta ao álbum The Wall (Pink Floyd) onde o tema do "entorpecimento" percorre todas as músicas.

(José Henrique P. e Silva)

Falo do outro para me ouvir!

"quantas vezes falamos dos outros para dizer algo de nós mesmos e ouvir algo sobre nós mesmos? É uma estratégia..." (José Henrique P. e Silva)

Competitividade na empresas e riscos psíquicos


Os ambientes cada vez mais supercompetitivos e repletos de assédio moral das corporações estão literalmente levando seus trabalhadores à "loucura". Os esgotamentos ("burn out"), somatizações e depressões são cada vez mais causas de faltas, licenças prolongadas e abandonos. E os riscos de suicídio crescem sem parar! Uma recente matéria no portal R7 (link abaixo) mostra um exemplo ao lembrar que, na França, entre 2008 e 2009, 35 funcionários da companhia telefônica France Telecom (atualmente Orange) suicidaram-se acusando os serviços de recursos humanos de "... aterrorizar os trabalhadores com mudanças que não levavam em conta suas competências profissionais..."

Como atuo também junto a organizações, principalmente com Clima Organizacional e com Programas de Valorização do Trabalhador, o que vejo é uma atuação da empresa que, na imensa maioria dos casos, se limita ao "sintoma", ou seja, ao que já ocorreu "concretamente" com o indivíduo. A questão psíquica é sempre DESMERECIDA e transformada em FRAQUEZA do indivíduo, como se fosse um problema PESSOAL. Esta é uma questão que mostra os limites de muitas corporação na visão que possuem dos seus próprios empregados. Falta muito, mas muito mesmo, a evoluir neste ponto.

A Psicanálise e seu olhar sobre o mundo

Luis Horstein (psicanalista argentino) nos lembra sempre que a psicanálise é uma forma de encarar o mundo, assim como outras disciplinas científicas. E, como nos permite "encarar" o mundo, é natural que nos alarme diante do que vemos por aí. Mas, nos alarmamos diante do que? Dessa expansão sem freios dos transtornos psíquicos!!!

A depressão no masculino e no feminino

Não tenho dúvida que os homens estão buscando mais a terapia hoje em dia. Não no mesmo ritmo das mulheres, mas tem algo que me chama a atenção. Vez por outra ouço que "homem não se deprime". Como assim? Diz o senso comum que enquanto a mulher se deprime, chora e vai em busca de ajuda profissional, o homem se irrita e foge de qualquer ajuda profissional. Ok, concordo, mas são estratégias distintas de se lidar com o mesmo problema. O pano de fundo é a depressão. A questão é que os homens, na sua maioria, (e as "mulheres fálicas") ao invés do abatimento tradicional parte para a "irritabilidade", a "violência", para o "excesso de trabalho", para a "bebida", as "drogas" etc., como que sentindo-se impossibilitado de demonstrar fraqueza. isso, portanto, invalida a tese de que as mulheres são as que mais sofrem com a depressão, principalmente nos dias de hoje em que a masculinidade sofre abalos seríssimos em suas estruturas. Os homens estão só começando a lidar com suas fraquezas!!!

Freud em um momento "selfie"

Foto: Selfie

A inibição como principal sintoma da depressão!

Pode-se falar o que for da depressão, já sabemos que é mesmo um flagelo da época atual, a ponto de ser confundida com tristeza e com a melancolia. Mas, o fato é que tem algo na depressão que merece destaque: a "inibição". É seu sintoma-chave e pode ser vista como uma perda de interesse e de satisfação com a realidade. Trata-se de um forte abatimento que, segundo L. Hornstein, se expressa na temporalidade ("não tenho futuro"), na motivação ("não tenho forças") e na autoestima ("não tenho valor algum"). Daí advém a inibição, certa paralisia, certo recuo da libido (interesse, energia), certo domínio da pulsão de morte! É claro que em momentos de tristeza todos apelamos a inibições, mas não confundir, pois na depressão ela se torna praticamente constante, paralisante e causando perdas psíquicas, amorosas, profissionais etc.!!!

Casamento e diálogo truncado!

É batata. Se houvesse uma casa de apostas para "diagnósticos" (sempre entre aspas tá) em clínicas de psicanálise, sempre que eu visse um casal se aproximando eu correria para apostar na "conversa truncada". Brincadeiras à parte, é isso mesmo o que acontece na maioria dos casos. Seja qual for o problema que esteja acontecendo com o casal, na maioria das vezes o pano de fundo é um diálogo truncado, uma quase falta de comunicação. Claro que a comunicação não se interrompe, mas fica muito limitada a posturas e gestos limitados, agressivos, irônicos, de depreciação etc. Ora, conversar implica em "ouvir" e "ser ouvido". E, para isso, é preciso "dar lugar ao outro", ser permeável, estar disponível. Algumas boas questões a serem investigadas são: Medo de desagradar ao outro? Receio de não ser aceito como é? Medo de brigar e lidar com os conflitos? Competição e disputar para saber quem tem razão? Não aceitação das diferenças individuais? Falta de habilidade, criatividade e interesse? Dificuldade para lidar com o carinho? Dificuldade para ser leve e ter bom humor? Etc., enfim, tem muita a ser investigada para se tentar restabelecer esse diálogo no casal!!!

Amor "idealizado"... que medo!

Pois é, o amor "idealizado" em épocas de comunicação on-line tem causado danos seríssimos em muitas pessoas! Costumo sempre pensar que O AMOR IDEALIZADO NÃO ABRE BRECHAS PARA O REAL, É O TERRITÓRIO DA FANTASIA. Uma de suas características é que, para manter-se idealizado, pode até mesmo haver uma recusa em encontrar a pessoa "frente a frente" pelo medo que a realidade "frustre" esse amor. Nesse sentido, a voz, as palavras, passam a funcionar como elementos que vão sustentar a imagem idealizada da pessoa amada em nossa fantasia. Tudo produto nosso tá, de nossos desejos e necessidades. A pessoa não tem nada a ver, necessariamente, com o que estamos idealizando a respeito dela! Quando este laço é cortado...o dano é seríssimo e vem acompanhado de uma angústia inominável!!! Quer um exemplo? Assista ao filme "ELA".

O "perfeito" numa relação

As sessões de análise são verdadeiras "provocações" rs. Muito mais instigantes que qualquer teoria. Logo cedo me vem uma pergunta: "Por que todos os casamentos não podem ser perfeitos?". Aí penso: "mas existe algum casamento perfeito?" O problema numa colocação assim não está no "casamento", mas no "perfeito". Por que precisamos tanto ter a "certeza" de que algo está ou é "perfeito"? E o que é ser "perfeito"? Não há modelos a seguir. É claro que estar juntos a bastante tempo pode melhorar o relacionamento, mas a questão não é tanto o "tempo" mas a "qualidade", a forma de "funcionamento" da relação. relacionamento é "construção" permanente de algo que não sabemos bem onde vai parar, mas que todo dia temos uma "pista" desse caminho a seguir. É só ter boa vontade em lidar com os imprevistos e com as diferenças que vão surgindo. Então...não há casamento "perfeito" porque simplesmente não há nada "perfeito", mas existem coisas que nos deixam felizes...por uma vida inteira! Não basta?

A dúvida e o paranóico

Para quem lida diretamente no atendimento clínico sabe que é fundamental no tratamento da paranóia instalar-se a "dúvida" no indivíduo. Suas "certezas" são sempre inabaláveis a um ponto de não temer nada. Mas, se confrontado com a dúvida e ele imaginar que pode estar equivocado haverá uma boa chance de perceber que não está bem. Claro que esse confronto com a dúvida vai variar em função do grau da paranoia e pode ir desde um simples oferecimento de uma "visão alternativa" para ser trabalhada como uma "possibilidade" até um desafio mais arriscado onde o indivíduo pode, ou reforçar sua crença, ou temer estar errado. Nesse último caso será sempre um sinal positivo! É algo que precisa ser cuidadosamente acompanhado, pois o tratamento é lento, cansativo e arrastado...para os dois!!!

O necessário sentir!

Foto: via #andrevilela

"muito opressor isto! As vezes achamos cansativo ler um pequeno texto, mas ficamos horas zapeando "sem rumo"...há algo de ansioso aí que nos impede de parar, contemplar, pensar e, simplesmente, sentir!!!"

(José Henrique P. e Silva)

Arte e Sentimento

Foto: Beijo na chuva

Leonid Afremov, nascido em 1955 em Vitebsk, na antiga União Soviética, vem ganhando espaço nas redes sociais da Internet com seus quadros coloridos e alegres e por sua técnica de pintura peculiar. Afremov não usa pincéis para pintura com tinta a óleo: ele pinta seus quadros com espátulas, geralmente usadas apenas para limpar a tinta das paletas e telas.

Imagem: “Beijo na chuva”, pintura de 1994 de Leonid Afremov.

Veja também:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2013/06/silencio-de-hopper.html

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"Confesso que não entendo nada de arte, mas me encanto com essas telas...acho que é isso que a arte quer né? Nos fazer sentir algo!!!" (José Henrique P. e Silva)

A necessária incerteza


Necessitar "estar certo" é uma ilusão, uma fantasia obsessiva que nos atrapalha bastante e impede tantos diálogos e relacionamentos que poderiam ser tão interessantes ...! Precisamos estar seguros que por pior que seja a incerteza e o risco poderemos sobreviver!!!

(José Henrique P. e Silva)

Reação Terapêutica Negativa

Se você é profissional da área, ou fez ou está em análise, pode já ter passado por uma dessas. Estou falando de um tipo de "reação" ao prosseguimento do tratamento que geralmente acontece quando determinadas questões vêm à tona indicando algum tipo de melhora, que acaba levando a uma piora. É um momento em que a desistência parece sedutora ao paciente e pode ser interpretada como um certo "apego" ao sofrimento e o quanto é difícil abandoná-lo. Como nos dizia Freud, trata-se de uma resistência à melhora que pode ser vista, inconscientemente, como uma ameaça à ter que se lidar com um sentimento de culpa que aflora. Ou seja, no decorrer do tratamento o paciente pode perceber que, ao melhorar, ele está lidando com culpas com as quais ainda não consegue lidar, de fato. E aí, algumas vezes, a solução, para ele, é o abandono do tratamento. Mas, na maioria das vezes ele reage só "resistindo" de alguma forma: falando mais e ininterruptamente, racionalizando todas as falas, tornando-se silencioso, faltando mais vezes, etc. É um momento decisivo no tratamento.

Acompanhante Terapêutico

Tenho conhecido uma garotada que, ainda bem nova, se fascina pelo atendimento psíquico (pois é...essas coisas podem fascinar rsrs). Na grande maioria das vezes nem são estudantes de psicologia ou mesmo têm formação em psicanálise. São estudantes ou mesmo profissionais de outras áreas que, simplesmente, querem atuar junto a pessoas que possuem algum tipo de transtorno psíquico. Em outras vezes nem tão jovens, mas dispostos a encarar novos desafios, o que é sempre fantástico na vida de qualquer um. O que digo a eles? Transforme-se num AT (acompanhante terapêutico) e vivencie as situações para saber se é realmente um campo que vai te dar satisfação! O AT é um profissional que atua muito fortemente em hospitais e casas de saúde acompanhando um ou dois pacientes por algum tempo. Ele não faz uma intervenção "psi" (psicológica ou psicanalítica), mas a partir de uma formação de mais ou menos 1 ano ele recebe teoria e supervisão para atuar na vida destes pacientes. Os pacientes não são os "neuróticos" clássicos dos consultórios. São os casos que beiram a psicose, ou seja, a tradicional "loucura" em suas múltiplas facetas. É um bom começo, meio duro, mas que dá um bom panorama dos desdobramentos psíquicos de um paciente.

Função Materna



"Nasci espalhado, mas no abraço materno recebo algumas delimitações que levam a tornar-me Eu..." 
(José Henrique P. e Silva).

A frase é só para lembrar que não nascemos como "indivíduos", vamos nos tornando, e sempre a partir das referências fornecidas pelos que estão ao nosso redor, nos acolhendo, cuidando, enfim, nos fornecendo a segurança necessária para um desenvolvimento psíquico e emocional saudável. Não à toa passamos o resto de nossa vida sempre buscando no "outro" esse algo que experimentamos de tão bom e que, em algum momento, pode ter-se perdido na vida!!!

Depressão x Remédios

Antidepressivos existem às dezenas, e vendem bem, aliás, muito bem, e em determinados de crise intensa podem se mostrar eficazes em manter o indivíduo em um equilíbrio razoável. O que isto tem a ver com "cura"? Praticamente nada! A atuação do antidepressivo é bioquímica e sua função é "aliviar" momento de crise. Por isso imaginar a possibilidade de "cura" é só uma fantasia que desenvolvemos na busca de algo "milagroso" e "rápido" no tratamento, como se a depressão fosse algo "externo" a nós mesmos. Não é! 

A depressão resulta de alterações na autoestima que trazem à tona a história infantil e a realidade atual e as coloca em choque. Por isso que cada depressão é uma depressão específica, própria daquele indivíduo. É preciso, portanto, no tratamento, buscar a chamada "raiz do problema" na história do indivíduo e sua relação com a realidade. Pensar que antidepressivo "cura", enfatizo, é só uma fantasia nossa em busca de uma cura milagrosa. O tratamento é lento e exige muito esforço...infelizmente! Isso ajuda a entender porque tantas pessoas chegam às clínicas com o objetivo de "deixar de usar o antidepressivo" pelos seus efeitos colaterais. Mas, é evidente que este é o ponto de vista da psicanálise!!!

A depressão e seus sintomas


L. Hornstein nos faz uma boa síntese daqueles principais motivos que levam os pacientes "depressivos" em busca de auxílio profissional. De alguma forma todos nós possuímos sintomas destas ordens, o que vai caracterizar a depressão é uma combinação mais intensa de algumas destas manifestações que saem da "normalidade" e caem no "excesso". E isto é algo absolutamente individual. O sofrimento é de cada um, não permite comparações e generalizações.

1) Alterações em estados de ânimo e afetividade (tristeza, baixa autoestima, auto-reprovação, perda de prazer e interesse, vazio, apatia, ansiedade, tensão, irritabilidade, inibições diversas);

2) Alterações no pensamento (baixa concentração, indecisão, culpa, pessimismo, crise de ideais e valores, pensamentos suicidas);

3) Manifestações somáticas (insonia, hipersonia, aumento ou diminuição do apetite, diminuição ou aumento do desejo sexual, dores corporais - cefaleias, lombalgias, dores articulares, sintomas gastrointestinais, sintomas cardiovasculares);

terça-feira, 17 de junho de 2014

A verdade nos liberta!

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E o que somos senão a nossa VERDADE? Difícil de ser enxergada, mas está lá, em algum lugar, esperando ser retirada, mas NÃO sem algum esforço!!!