quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dá pra simplesmente "esquecer" o passado?

Em 100,0% das vezes que se vê alguém sofrendo por algo acontecido no passado o conselho é sempre o mesmo: "esqueça o passado" e simplesmente viva. Ok, belo conselho, mas inútil em 99,9% dos casos, simplesmente pelo fato de que são as experiências do passado que nos constituíram como pessoa e, se precisamos agora mudar algo, assumir novas ideias e novas comportamentos, teremos que revisitar aquilo que nos constituiu e dar àquilo um novo significado. Decidir o que vamos fazer com nosso passado não é uma escolha meramente "consciente" ou de nossa "razão" ou "vontade". É um pouco mais complexo que isso, senão o conselho bastaria em si mesmo. Então, é assim...o passado não nos larga, só não podemos ficar reféns dele! É preciso conversar sobre ele, ou ele não nos deixará em paz!!!

(José Henrique P. e Silva)

O trabalho de "liga pontos" do paranóico!


Outro dia um paciente em análise (com fortes traços persecutórios) me disse que sentia-se o tempo inteiro preenchendo aqueles jogos de "liga pontos" para tentar provar que estava certo na forma como via o mundo. Ok, é uma razoável metáfora. Mas, ele se surpreendeu mesmo em começar a perceber que não está seguindo os pontos livremente para formar uma imagem que desconhece. O que ele faz, na verdade, é simplesmente, de forma intencional, ligar pontos que dão contorno a uma imagem que já tem em sua mente. Seu trabalho é menos o de um detetive que segue pistas para descobrir (para si) uma verdade, e mais o de alguém que liga os pontos para provar (aos outros) o que ele já sabe que é verdade. É a "certeza" e a "convicção" que tão bem alimentam a persecutoriedade e que não deixam espaço para a "dúvida"!

(José Henrique P. e Silva)

"Não somos donos de nossa própria casa" (Freud)

Outro dia a psicóloga e filósofa Viviane Mosé trouxe em sua página do Facebook uma interessante reflexão ao lembrar que "...o pensamento é muito mais amplo do que temos consciência. Podemos pensar sem palavras, em fluxos tão rápidos, que não conseguimos traduzir em signos de comunicação..."

Para enfatizar a ideia, trouxe uma citação de Nietzsche: "...o ser humano, como toda criatura viva, pensa continuamente, mas não o sabe; o pensar que se torna consciente é apenas a parte menor, a mais superficial, a pior, digamos...".

Isso me leva a pensar de imediato em Freud quando nos diz que "não somos donos de nossa própria casa", ou seja, possuímos pulsões que escapam a qualquer controle e acesso à consciência - Estamos falando, então, de nosso "inconsciente", que tanto é objeto da Psicanálise. 

Dessa forma, nossos pensamentos e comportamentos, somente em parte são regidos pela "razão", daí talvez tantas "angústias sem nome", e de onde não sabemos exatamente a origem da dor, daquela falta. Mas, ela está ali, nos pressionando, nos paralisando, ditando nossos passos para muito além de nossa capacidade de controle, raciocínio e entendimento. 

Somos sujeitos "divididos", mas não necessariamente, ou exclusivamente, em mente e corpo. Antes mesmo disso, nossa mente está dividida em uma parte "consciente" que conhecemos e outra "inconsciente", que também nos define, mas que pouco ou nada dela sabemos. É por isso que, como nos diz Freud, de minha casa (mente) só sou dono somente de um pequeno cômodo (razão).

A imagem anexada é só para efeito didático, mas mostra bem essa divisão a que estamos sujeitos!

(José Henrique P. e Silva)

O sentimento oceânico!

Essa esperança de elevar-se ao "infinito" de que nos fala Baudelaire sempre me faz lembrar de Freud nos falando algo acerca do "sentimento oceânico", aquele sentimento que, supostamente, guardamos como a lembrança de uma satisfação que experimentamos em algum momento de nossa constituição, e que passamos a vida à buscá-la novamente. Sentimento que nos leva, em vários momentos, à buscar uma transcendência como a uma religação com Deus, por exemplo, no sentido de nos sentirmos um pouco mais amparados.

(José Henrique P. e Silva)

O narcisismo das drogas!

Foto: Bem antes de Freud, Baudelaire já nos falava da busca que o homem faz, com o uso das drogas, para escapar à sua dor e alcançar o que seria um "jardim da beleza verdadeira". O resultado é sempre o preço a pagar por sua tentativa de escapar à sua humanidade. O homem não é Deus! Portanto há que lidar com seus sofrimentos e tentar escapar pelas drogas só o leva a um caminho de um destrutivo narcisismo que lhe oferece um prazer instantâneo, mas acompanhado, posteriormente, de uma severa angústia, que revela suas limitações.

(José Henrique P. e Silva)

Bem antes de Freud, Baudelaire já nos falava da busca que o homem faz, com o uso das drogas, para escapar à sua dor e alcançar o que seria um "jardim da beleza verdadeira". O resultado é sempre o preço a pagar por sua tentativa de escapar à sua humanidade. O homem não é Deus! Portanto há que lidar com seus sofrimentos e tentar escapar pelas drogas só o leva a um caminho de um destrutivo narcisismo que lhe oferece um prazer instantâneo, mas acompanhado, posteriormente, de uma severa angústia, que revela suas limitações.

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Corrida maluca pela vida!

Fala-se muito que a juventude está cada vez mais "excessiva" em seus ritos de passagem. Mas, vejo isso de forma tão ampliada, alcançando faixas etárias as mais diversas, todas numa corrida desenfreada pelo consumo, temerosas e sujeitando-se apenas à superficialidade dos relacionamentos e ansiosas por viver os momentos de forma intensa e sem limites.

Que corrida maluca é essa?

(José Henrique P. e Silva)

Baudelaire: "Paraísos Artificiais (o haxixe, o ópio e o vinho)"

Compartilho aqui com os amigos uma rápida sinopse de um trecho do livro de C. Baudelaire (1821-1867). Ele ficou muito conhecido pelo livro “As Flores do Mal”, lançado em 1857 mas, pouco antes, em 1851 publicou o poema “Do Vinho e do Haxixe” que, dez anos depois (1861) viria dar origem a "Paraísos Artificiais". No final deste poema já trazia o tom que marcaria o futuro livro:

O gosto frenético do homem por todas as substâncias, sãs ou perigosas, que exaltem sua personalidade, testemunha sua grandeza. Ele aspira sempre a reavivar sua esperança e a elevar-se ao infinito. Mas é preciso ver os resultados. Temos um licor que ativa a digestão, fortifica os músculos e enriquece o sangue. Tomado em grande quantidade, apenas causa desordem passageira. Temos uma outra substância que interrompe as funções digestivas, que enfraquece os membros e que pode causar uma embriaguez de vinte e quatro horas. O vinho exalta a vontade; o haxixe a aniquila. O vinho é suporte físico; o haxixe é uma arma para o suicídio. O vinho nos torna bons e sociáveis; o haxixe nos isola. Um é laborioso, por assim dizer, o outro essencialmente preguiçoso… enfim, o vinho é para o povo que trabalha e que merece bebê-lo. O haxixepertence à classe dos prazeres solitários, é feito para os miseráveis ociosos.
A citação merece ser vista em detalhes e, para isso, é bom recorrer logo ao livro “Paraísos Artificiais”. Para Baudelaire,
O bom senso nos diz que as coisas da terra não existem inteiramente e que a verdadeira realidade só é encontrada nos sonhos (…) Tanto quanto de uma droga perigosa, o ser humano goza do privilégio de poder tirar novos e sutis prazeres da dor, da catástrofe e da fatalidade.
Estas duas frases de C. Baudelaire estão em sua curta dedicatória do livro à uma amiga, e são reveladoras do caminho que irá percorrer neste trabalho: o de mostrar a extrema fluidez da “realidade”, um conceito aparentemente físico, mas imerso na fantasia e no sonho, e o de como o homem busca caminhos os mais diversos como fontes de prazer, ou atenuação da sua dor.

O ponto de partida? Segundo Baudelaire o "gosto pelo infinito". Mas, o que é isto? Segundo Baudelaire quando temos o cuidado de observar a nós mesmos notamos dias felizes e minutos deliciosos. Trata-se de estados excepcionais, paradisíacos, superiores, anormais, encantadores, estranhos,
onde uma sensibilidade delicada não é mais perturbada por nervos doentios, estes frequentes conselheiros do crime ou do desespero (p.12).
É daí que deriva o gosto pelo infinito, pelo prazer sem fim. Não à toa, então, o homem busca nas ciências os meios de escapar à sua “morada de lobo”, tentando chegar ao paraíso de forma mais rápida. Mas, suas opções de caminho são questionadas por Baudelaire, afinal o homem cai em uma depravação, à qual atribui as razões pelos “excessos culposos”, como no caso da embriaguez.

A semelhança aqui com Freud é inevitável, só que com mais de meio século separando-os. Freud coloca as drogas como um dos meios através dos quais os homens buscam a via do prazer, ou, pelo menos, atenuar a sua dor.

São estas drogas que, para Baudelaire, criam um “ideal artificial“, um “falso ideal”, que passamos a perseguir. Exemplos destas drogas? O haxixe e o ópio. É do uso destas duas substâncias que Baudelaire vai, através de depoimentos, tentar entender este mecanismo de busca pelo “Paraíso Artificial”.

Mas, vou me limitar aos comentários sobre o haxixe. Inicialmente, Baudelaire nos faz uma descrição do haxixe e de seu preparo em pasta. Em seguida, faz um relato pormenorizado da “embriaguez” causada pelo haxixe. Precisamos, aqui, entender a “embriaguez” em seu sentido amplo, de “perda de sentido”.

Fala, inicialmente, da expectativa por sonhos prodigiosos (alucinações) que, na realidade, não trazem nada de miraculoso, apenas excessivo, já que o efeito no cérebro é o de aumentar os fenômenos sonhados. Vive-se uma viagem, intensa, marcada pela inquietação.

É esta inquietação que, logo depois, transformam-se em angústia, tristeza, tortura.´O processo é simples. Uma certa hilariedade extravagante dará lugar a uma ideia de superioridade, genialidade, por sua vez, seguida de um objeto de terror, pânico para, enfim, dar lugar a uma infelicidade de proporções grandiosas. É uma sensação de apaziguamento onde o velho corpo já não parece sustentar os desejos da nova alma. A viagem parece interminável, embora só dure alguns minutos.

Nos momentos finais vem a sagacidade, os sentidos ficam muito apurados e têm lugar as alucinações. Os objetos tomam formas diferentes.
A ideia de uma evaporação, lenta, sucessiva, eterna, tomará conta de seu espírito, e voce aplicará em seguida esta ideia aos seus próprios pensamentos (p. 36).
A percepção do tempo está completamente alterada. No dia seguinte, o cansaço é grande.
Mal você se levanta e um velho resto de embriaguez acompanha-o e o atrasa como os grilhões de sua recente servidão. Suas pernas fracas conduzem-no com timidez e a cada minuto você teme quebrar-se como um objeto frágil… É a punição pela prodigalidade ímpia com a qual gastou seus fluídos nervosos. Voce disseminou sua personalidade aos quatro ventos do céu e, agora, que dificuldade encontra para reuni-la e concentrá-la (p. 44).
Mas, pergunta Baudelaire, qual a moral do haxixe? O fundamental seria reconhecer a ação do veneno sobre a parte espiritual do homem, isto é,
O engrandecimento, a deformação e a exageração de seus sentimentos habituais e de suas percepções morais…(p.45).
Que logo se transforma em servidão.

É por isto que Baudelaire classifica o haxixe como um “inimigo perturbador”, um “demônio desordenado” que causa profunda “devastação moral”, resultado daquela episódica sensação de ser um rei que “vive na solidão de sua convicção”.

Trata-se de um rápido momento em que a natureza humana é “corrigida e idealizada”, onde se pode dizer: “sou o mais virtuoso dos homens!… sou o centro do universo!… sou Deus!“.

Mas, é um “jogo proibido” onde o homem vende sua alma para não ter mais que suportar as condições de sua vida real. É, como diz Balzac, a “abdicação da vontade“.

Aqui temos um ponto central em Baudelaire: tentamos eliminar a dor abdicando da vontade e da liberdade para tentar alcançar os prazeres do paraíso. Trata-se, entretanto, de um prazer viciante, um paraíso conquistado à custa da saúde. Dessa forma, conclui Baudelaire:
O haxixe, como todos os prazeres solitários, torna o indivíduo inútil aos homens e a sociedade supérflua para o indivíduo, levando-o a admirar a si próprio sem cessar e empurrando-o, di a dia, ao abismo luminoso onde ele admira sua face de narciso (p. 63)
Baudelaire não admite a servidão da vontade, da intenção, da contemplação em troca de um prazer momentâneo, embora grandioso…mas narcisista.

Cabem algumas indagações sobre este tema: Onde está, de fato, nosso “jardim da beleza verdadeira”? Como alcançá-lo? Podemos, de fato? A que custo? Ou ele só nos faz lembrar de nossos limites, angústias e dores?

______________

Baudelaire, Charles. Paraísos Artificiais. Tradução de Alexandre Ribondi, Vera Nóbrega e Lúcia Nagib. – Porto Alegre: L&PM, 2011.

terça-feira, 29 de julho de 2014

O horror de perder-se em si mesmo!

"Nosso maior horror ainda é perceber o "vazio" em nós mesmos, aquilo que não podemos nominar...!"

Rascunhei esta frase para chamar a atenção para o fato de que, muitas vezes, recusamos mesmo conversar sobre nossos sofrimentos e o negamos a todo custo. Por trás dessa postura prepotente de nossa parte existe sim um quadro de receio e medo de lidar com algo que nos é desconhecido. Vejo isso a todo instante na rua e nos atendimentos. Pior ainda quando "ataca" profissionais de nossa área (mas disso comento depois). Lembro de filmes como “Fim dos Tempos” (M. Night Shyamalan, 2008) que, com suas cenas absurdas (no sentido de inexplicáveis) de pessoas se atirando do teto de edifícios, nos colocam diante deste horror que, eu resumiria dizendo que é o nosso próprio... enlouquecimento!!! Aliás, enlouquecimento que é perder-se em si mesmo!!!

(José Henrique P. e Silva)

Niemayer

"...Estou de olhos fechados, mas não estou dormindo...".

Esta frase foi dita pelo O. Niemayer para sua esposa quando ainda estava no hospital. Lembro que a anotei porque achei simplesmente maravilhosa. Estava ali, à beira da morte mas mantendo uma lucidez e um bom humor impressionantes. A frase me faz lembrar quantos estão de olhos tão bem abertos por aí e, no final das contas, parecem mais estar dormindo!!!

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A questão do TDAH e o perigoso abuso da Ritalina

Em nota divulgada a seus associados a ABRASME (Associação Brasileira de Saúde Mental) comentou a recente portaria da Sec. Mun. de Saúde de SP que regulamenta o uso do metilfenidato para os diagnosticados com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade). A decisão da Secretaria foi vista como oportuna devido o uso abusivo da RITALINA (o mais comum) aqui no Brasil, ao contrário de alguns países onde o controle é restrito e o remédio é classificado como "narcótico", com severa capacidade de provocar dependência e "incapacitação" na vida adulta. A forma como é diagnóstica a TDAH e o abuso de receitas de Ritalina já beira mesmo a irresponsabilidade com crianças de faixa etária cada vez mais nova. É preciso pensar sobre essa questão do TDAH com cuidado e com uma visão que extrapole a simples medicalização, francamente estimulada por propagandas da indústria farmacêutica. 

Como diz a nota, não é incomum se ouvir por aí que "o esquecimento infantil e as baixas notas escolares são transtornos mentais e resultantes de desequilíbrio químico no cérebro, e que portanto deve-se consultar um clínico especializado". Isso é um absurdo! Não dá para generalizar essas situações!!! E olha que estamos falando somente do TDAH, e se fôssemos falar de depressão, transtorno bipolar e outras patologias? É preciso por um freio nesse comércio de drogas que envolvem a saúde mental. Remédio é bom, mas com uso responsável!!!

(José Henrique P. e Silva)

"Ahhh...isso é psicológico!"

Geralmente se ouve isso (bastante por sinal) como uma forma de menosprezo a um sentimento ou dor expressada por alguém. O que há por trás disso? Uma noção de que o sofrimento só é possível e legítimo se vier acompanhado de um sintoma que caracterize uma "doença". Não! O sofrimento também é (principalmente) ...psíquico!!! 

(Adaptado da fala de C. Dunker - agora no Café Filosófico)

Subejtividades que negam o sofrimento!

Interessante essa questão das "subjetividades pós-traumáticas" levantadas pelo C. Dunker no Café Filosofico (TV Cultura). São pessoas que, de alguma forma, mesmo sofrendo, negam qualquer tipo de sofrimento, não o conseguem expressar, parecem estar num estado de "normalidade" permanente. A associação que ele fez foi com os "zumbis"...Bem, não à toa vivemos uma "febre" de zumbis na literatura e no cinema...talvez expressem bem essa parcela da população que teima em não querer reconhecer seu aspecto psíquico. 

(José Henrique P. e Silva)

"Normalidade"!

Acho que o "normal" é algo como um estado em que nos permitimos ser humanos, simplesmente! Com nossas dores, sofrimentos, alegrias e felicidades! Se pensarmos que o "normal" é sinônimo de "felicidade" ou "vida saudável" podemos entrar num beco sem saída!!!


(José Henrique P. e Silva)

domingo, 27 de julho de 2014

O inconsciente é o "alvo" da Psicanálise!

Foto: Trata-se de uma daquelas frases de Freud que diz muito mais do que se percebe à primeira vista. Nos fala não só do inconsciente, mas do recalque e da pulsão, pilares da teoria psicanalítica. Ou seja, falar em psicanálise é trazer a questão do inconsciente para primeiro plano. Porém, apesar de ter sido dita a quase 100 anos, esta frase ainda permanece obscura para muitos que não percebem que entre a "doença" manifestada no sintoma e os "conteúdos psíquicos" (emocionais) que todos apresentamos, existe o inconsciente determinando boa parte de nossa vida (ações e pensamentos). É aquilo que muitas ciências não conseguem enxergar ou mesmo admitir. É para ele, especialmente, que a psicanálise dirige seu olhar e seus esforços!!!

(José Henrique P. e Silva)
Trata-se de uma daquelas frases de Freud que diz muito mais do que se percebe à primeira vista. Nos fala não só do inconsciente, mas do recalque e da pulsão, pilares da teoria psicanalítica. Ou seja, falar em psicanálise é trazer a questão do inconsciente para primeiro plano. Porém, apesar de ter sido dita a quase 100 anos, esta frase ainda permanece obscura para muitos que não percebem que entre a "doença" manifestada no sintoma e os "conteúdos psíquicos" (emocionais) que todos apresentamos, existe o inconsciente determinando boa parte de nossa vida (ações e pensamentos). É aquilo que muitas ciências não conseguem enxergar ou mesmo admitir. É para ele, especialmente, que a psicanálise dirige seu olhar e seus esforços!!!

(José Henrique P. e Silva)

O tão difícil amadurecimento!

"...Por ser mais ansiosa que as outras ou porque não conseguiu ter um apego suficientemente seguro para poder retirar dele a autoconfiança necessária, a criança as vezes tem dificuldade de transpor as etapas da conquista da autonomia (...) busca então prolongar uma "colagem" arcaica, mostrando uma tendência à regressão que traduz sua dificuldade - recusa até - de crescer..." (Marcel Rufo, psicanalista francês - "Me larga! Separar-se para crescer").
Esta citação do Rufo traz um tema de vital importância pois diz respeito àquela necessária autoconfiança que a criança adquire no afeto recebido e que é decisiva para sua integridade emocional. Caso este processo apresente falhas substanciais o adolescente ou adulto poderá apresentar tendências à regressão no sentido de buscar sempre esse afeto não recebido. Na sua depressão, por exemplo, estará sempre em busca daquela satisfação que um dia perdeu e não soube mais viver sem...estamos falando de maturidade, de crescimento emocional, de algo que exige uma constituição psíquica minimamente saudável, do contrário, seremos sempre como crianças em busca do aconchego de um colo materno...metaforicamente é claro...mas as vezes bem real!!!

(José Henrique P. e Silva)

Angústia de Separação!

Naquele rol de angustias que são dilacerantes para alguns de nós está aquela intensa ansiedade experimentada quando de uma possível perda ou separação de alguém a quem atribuímos importância. Trata-se de uma angústia que pode nos acompanhar por toda uma vida nos colocando sempre em maus lencóis quando nos vemos perdendo algo ou alguém. O mundo parece desabar, a sensação de morte é iminente, o corpo parece se estilhaçar, a culpa se instala, a autodepreciação galopa. Então, aprender a separar-se, aprender a lidar com a perda, passa pela confiança de que não morreremos ali, e que teremos que aprender também a lidar com algo que nos faz companhia por boa parte da vida: a tristeza!!!

(José Henrique P. e Silva)

Verdadeiro x Falso Self: A divisão que nos torna "normais" (Winnicott)

Foto: VERDADEIRO X FALSO SELF: A "DIVISÃO" QUE NOS TORNA "NORMAIS" (Winnicott)

Nesta palestra de 1964 Winnicott nos oferece uma rápida diferenciação entre o verdadeiro e o falso self. Trata-se de uma "divisão" que todos nós possuímos e que nos torna "doentes" e, ao mesmo tempo, "saudáveis" e "normais". Esta "divisão" é uma cisão na mente (que, em grau profundo, gera a esquizofrenia). Um exemplo bem simples: A sociedade nos exige, para nossa convivência pacífica, altos graus de concordância e adaptação. Por isso, aprendemos, desde cedo, a dizer "obrigado", por polidez, e não necessariamente porque queremos dizer. Ou seja, aceitamos as regras em boa parte para melhor convivermos e administrarmos a vida. A "regra" é sempre um preço a pagar pela "socialização". Este é um belo atalho para a neurose. 

São tais concessões que, por vezes, levam à construção de um falso self. É esse falso self que, por vezes, contrasta com o self verdadeiro, aquele que mantém nossos desejos, que é de nossa privacidade. Nessa luta, estamos todos, e a todo instante, envolvidos, adoecemos por vezes, mas isso é parte de nossa "normalidade"! A "civilização" tem um custo, e quem paga o preço é o nosso "desejo"...não é aí que está a raiz do "mal-estar"? Aparentemente irremediável por sinal. Estamos falando da natureza humana, daquilo que, talvez, seja a nossa maior característica: somos seres "divididos"!!!

(José Henrique P. e Silva)
Nesta palestra de 1964 Winnicott nos oferece uma rápida diferenciação entre o verdadeiro e o falso self. Trata-se de uma "divisão" que todos nós possuímos e que nos torna "doentes" e, ao mesmo tempo, "saudáveis" e "normais". Esta "divisão" é uma cisão na mente (que, em grau profundo, gera a esquizofrenia). Um exemplo bem simples: A sociedade nos exige, para nossa convivência pacífica, altos graus de concordância e adaptação. Por isso, aprendemos, desde cedo, a dizer "obrigado", por polidez, e não necessariamente porque queremos dizer. Ou seja, aceitamos as regras em boa parte para melhor convivermos e administrarmos a vida. A "regra" é sempre um preço a pagar pela "socialização". Este é um belo atalho para a neurose. 

São tais concessões que, por vezes, levam à construção de um falso self. É esse falso self que, por vezes, contrasta com o self verdadeiro, aquele que mantém nossos desejos, que é de nossa privacidade. Nessa luta, estamos todos, e a todo instante, envolvidos, adoecemos por vezes, mas isso é parte de nossa "normalidade"! A "civilização" tem um custo, e quem paga o preço é o nosso "desejo"...não é aí que está a raiz do "mal-estar"? Aparentemente irremediável por sinal. Estamos falando da natureza humana, daquilo que, talvez, seja a nossa maior característica: somos seres "divididos"!!!

(José Henrique P. e Silva)

A esperança que é movimento!

Pois é... tantas vezes "reduzida" à uma fantasia ou a um sonho a "esperança" acaba perdendo aquela sua força que nos impulsiona, nos faz movimentar. Manter a esperança, não é fantasiar... é pensar e manter em vista um desejo, é nos manter ativos e com astúcia suficiente para transformar a vida em algo incrível!!!

(José Henrique P. e Silva)

Foto

A "grandeza" da Paranóia

Foto
Um bom atalho para tornar-me um semi-deus seria a paranóia. Ela me dotaria de convicções inabaláveis, de uma certeza em ter a solução para tudo, e de uma capacidade tão grande de suportar a minha dor, que eu simplesmente me desligaria desse mundo, pois já teria um só para mim! Mas, não! Só quero ser gente...e só quero gente ao meu redor!!!

(José Henrique P. e Silva)

A internalização da indiferença

Hoje me aconteceu algo bem interessante. Havia concluído um atendimento e tinha uma folga. Resolvi então conhecer um certo local que me haviam indicado para comer algo. Ficava a pouco menos de 2 kilômetros de distância. Em outros tempos eu imediatamente iria a pé, pois gosto de andar, mas debaixo de certa temperatura não dá!!! Como estava numa rua com bastante circulação de ônibus entrei no primeiro que vi pois sabia que passaria por lá com certeza. Dito e feito. Mas, assim que entrei me sentei em um banco e logo em seguida uma senhora ficou ao meu lado (não haviam mais lugares vazios). De imediato, levantei e ofereci o lugar para ela. Ok, até aí tudo normal. O que me causou surpresa foi o comentário dela: "não precisa senhor. O Senhor está bem vestido fique aí mesmo. Esses ônibus são ruins". Claro que eu fiquei de pé e ela sentou...e menos de dois minutos depois eu desci e fui fazer o lanche. 

Moral da história? É espantoso como determinadas pessoas, bem mais sofridas que a gente, incorporam uma espécie de "humilhação" que as condena a um eterno dever de obediência. Não preciso dizer o quanto fiquei constrangido com aquilo. Para ela, eu não deveria estar andando de ônibus...! Ela, uma senhora, cheia de sacolas, visivelmente cansada, estava ali, preocupada comigo!!! Enfim, coisas do cotidiano que, teimamos em sempre fechar os olhos e deixar passar despercebidas. Tudo bem, podemos até não poder fazer nada ou quase nada, mas podemos observar, pensar e tentar nos tornar cada vez pessoas melhores!!!

(José Henrique P. e Silva)

O excesso que transborda!

Foto: A árvore que não dá frutos
É xingada de estéril
Quem examina o solo?

O galho que quebra
É xingado de pobre
Mas não havia neve sobre ele?

Do rio que tudo arrasta
Se diz que é violento
Ninguém diz violentas
As margens que o cerceiam

(Bertold Brecht)

Conheci este poema no livro "Os anjos também surtam" (prof. Ierece Barbosa) e achei lindo por escapar ao senso comum de ver naquilo que escapa à margem uma certa anormalidade. Talvez só exista aí uma urgente necessidade de transbordar algo que está em excesso...e o excesso também pode ser de amor!!!

(José Henrique P. e Silva)
A árvore que não dá frutos
É xingada de estéril
Quem examina o solo?

O galho que quebra
É xingado de pobre
Mas não havia neve sobre ele?

Do rio que tudo arrasta
Se diz que é violento
Ninguém diz violentas
As margens que o cerceiam

(Bertold Brecht)

Conheci este poema no livro "Os anjos também surtam" (prof. Ierece Barbosa) e achei lindo por escapar ao senso comum de ver naquilo que escapa à margem uma certa anormalidade. Talvez só exista aí uma urgente necessidade de transbordar algo que está em excesso...e o excesso também pode ser de amor!!!

(José Henrique P. e Silva)

Fim de análise e separação!

Foto: FIM DA ANÁLISE E SEPARAÇÃO

É claro que o processo de análise tem um fim. Mas isso nem sempre tem a ver com "cura" (podemos conversar depois sobre isso). Há um término em algum momento, e o analista precisa saber lidar com essa separação. Alguns vêem a separação como um "fracasso", outros insistem em impedir a separação e embarcam numa questão delicada que é a de tentar criar uma "dependência" no analisando. Não podemos deixar de ter em mente que estamos ali para auxiliar numa travessia e na volta dessa travessia estaremos sozinhos de novo, e pior, na travessia, não podemos ficarmos sentados no meio da ponte. Quem geralmente está no meio da ponte é o analisando...se ficarmos lá com ele por muito tempo aí sim, estaremos fracassando e cultivando uma dependência mortífera para ambos!!!

(José Henrique P. e Silva)
É claro que o processo de análise tem um fim. Mas isso nem sempre tem a ver com "cura" (podemos conversar depois sobre isso). Há um término em algum momento, e o analista precisa saber lidar com essa separação. Alguns vêem a separação como um "fracasso", outros insistem em impedir a separação e embarcam numa questão delicada que é a de tentar criar uma "dependência" no analisando. Não podemos deixar de ter em mente que estamos ali para auxiliar numa travessia e na volta dessa travessia estaremos sozinhos de novo, e pior, na travessia, não podemos ficarmos sentados no meio da ponte. Quem geralmente está no meio da ponte é o analisando...se ficarmos lá com ele por muito tempo aí sim, estaremos fracassando e cultivando uma dependência mortífera para ambos!!!

(José Henrique P. e Silva)

O fascínio pelo psicopata e seus crimes!

Outro dia estava conversando com um colega e ele me perguntou: Por que temos um fascínio por crimes cometidos por psicopatas? A pergunta é legítima sim! Há algo de muito instigante aí. Eu, particularmente, acho o psicopata "comum" mais interessante, pois ele se mistura a todos nós e praticamente "desaparece", sendo de difícil identificação. Mas ele se referia aos criminosos, assassinos. Esses psicopatas nos chamam a atenção para um medo que todos temos: o de "enlouquecer". Todos sabemos dessa possibilidade, todos sabemos que podemos surtar, que podemos cometer loucuras...enfim! 

Ver, ler ou falar sobre isso, então, é uma forma de liberar tal sentimento de medo e dar a ele algum significado mais tranquilizador. Pode ser que não seja assim para todos, mas para uma boa parte de nós é assim que funciona. Daí o faascínio. É uma forma de lidarmos, inconscientemente, com nosso inconsciente, mantendo nossos medos de alguma forma suportáveis. Por isso que, com nossa curiosidade, ao nos colocarmos no lugar do psicopata estamos em busca de algo sobre nós mesmos!!!

Ali, no terreno do crime da loucura, muitas vezes não se tem "provas" que possam ser coletadas, mas existe muita raiva, ódio, desejos, medos...e todos são armas muito perigosas. Geralmente os policiais não atentam para esses "detalhes". 

(José Henrique P. e Silva)

27.07.2014 - A necessária educação sustentada no afeto

O horário era o do almoço. Perto de umas 13:30. Eu estava sozinho almoçando em um local que gosto muito em Sampa, mais precisamente na Rua Augusta...ufa, que saudades daquelas esquinas tão democráticas, com todo tipo de gente e de gostos. Mas, vamos lá! Numa mesa próxima, um pai e duas crianças. Em determinado momento uma delas, a menor (talvez uns 5 anos), abre uma mochila, tira um brinquedo e o coloca sobre a mesa. O "problema" é que o brinquedo ao ser colocado e arrastado sujou a toalha que cobria a mesa. A reação do pai foi absolutamente desproporcional. Numa rápida reação esticou o braço, arrancou o brinquedo das mãos da criança, depois, com uma mão lhe segurou fortemente o braço, com a outra lhe colocou o dedo na cara e desfilou uma série de pequenas ofensas, com uma feição que beirava o ódio.

Ele parecia mesmo estar seguro de que realmente tinha feito a coisa certa, afinal estava dando uma demonstração pública de seu "cuidado" com a educação de seu filho. Ok, tudo bem! Parei de olhar e me voltei para meu próprio prato. Mas, logo em seguida, comecei a me chocar por outra coisa. A reação da criança! Ficou absolutamente calada, quase estática em seu lugar durante todo o restante do almoço. Parecia estar paralisada de medo. Sua obediência era exemplar. Nem um pio sequer, nem um esboço de movimento, difícil até perceber se ela levantava o rosto. E isso parece não ter causado nenhuma outra reação no pai, que parecia convencido de sua missão. Mas, e a criança, o que sentia? Vergonha, humilhação, impotência, insegurança, abandono?

Ver esta reação da criança me fez pensar em algo que as vezes parece tão óbvio, mas tão difícil de ser colocado em prática: Uma educação sustentada no afeto, e não na agressividade. Nós precisamos de uma casa e de uma família sadia para nos constituirmos emocionalmente fortes. Aí está o óbvio da questão, pois se trata de um princípio inquestionável. Mas, nunca é tão simples. Se tudo fosse tão simples, talvez a psicanálise e a psicologia nem existissem! E precisaríamos deixar de ser humanos também.

Claro que, depois de adultos, podemos recuperar parte do "estrago" que experimentamos na infância, mas poderíamos evitar muito desse sofrimento se existisse mesmo a luta e a disposição para transformar a família em um local de harmonia, onde o respeito ao outro (criança) deve prevalecer acima de tudo, e onde sempre haja motivo para o cuidado e o amor... só isso! Isso não significa ser passivo diante de uma atitude equivocada da criança, significa apenas que algo diferente deve ser colocado no lugar da agressividade e da ofensa. Esse pai, portanto, é exatamente o outro polo daquele pai submisso que, incapaz de colocar limites, ajuda na formação de "pequenas majestades".

Mas, é comum ouvir pessoas, principalmente de uma ou duas gerações passadas, dizerem que o "sofrimento nos fortalece". Isso já serviu como pano de fundo e justificativa para uma educação "tirânica" e carente de afeto. É lógico que a dureza da realidade está aí para nos ensinar algo. Mas, será que não podemos aprender de outra forma? Temos mesmo que agir de uma forma que beira a crueldade com os filhos? Quem disse que uma educação centrada no respeito e no carinho não torna uma criança muito mais forte e segura que uma educação centrada na simples severidade? Veja, não estou falando de limites. Isso é outra coisa! Estou falando de se negar afeto.

Ora, o sofrimento, se nos ensina algo, é sempre nos machucando, ferindo, causando dor. O máximo que ele consegue é nos "embrutecer" e isso não é ser "emocionalmente sadio". A realidade já será devidamente dura para todos nós e nossas crianças, mas pra que antecipar estes sofrimentos? Torná-la capaz de sobreviver à dureza da realidade não significa envolve-la em sofrimento desde cedo. Significa dotá-la de afeto, lhe dar a segurança de saber que é amada, pois é este afeto que a tornará forte para enfrentar a vida. Uma vida dura leva ao sacrifício de muitos afetos e, consequentemente, da felicidade. Então, acreditar que uma educação baseada no sofrimento ajuda a suportar melhor a vida é só reproduzir aquilo que se aprendeu e se recebeu: uma vida sem afeto! Nada mais que isso. Temos mesmo que reproduzir isso? E não adianta culpar quem nos causou algum sofrimento. A responsabilidade por mudar é nossa. Somente nossa!

Enfim, há poucas coisas tão terríveis na vida quanto ver uma criança que, na sua paralisia e medo, mostra todo o seu desamparo afetivo. Nessa hora, alguma lembrança pode vir à mente, você suspira fundo, se identifica com algo e logo percebe: não precisava ser assim! Podia ter sido de forma diferente! Mas, vamos em frente!!!

(José Henrique P. e Silva)

Um instante...o amor!

Foto: Vindos de histórias de vida amargas, Dodge e Penny conheceram-se ha poucos dias, experimentam momentos tensos e divertidos e agora, instantes antes do fim do mundo, se encontram. Se abraçam, deitam lado a lado, com as mãos dadas e olhares voltados um para o outro. Enquanto aguardam o momento final travam o seguinte diálogo (do filme "Procura-se um amigo para o fim do mundo").

 - Eu não quero dormir, tudo bem? Não me deixe dormir, prometa, diz Penny.
- Eu prometo. E seus pais?
- Eles são românticos e entenderão. Além disso eles têm um ao outro. Eu só quero ficar com você.
- E eu com você.
- Eu não poderia viver sem você. Não importa por quanto tempo. O que fazemos agora?
- Só quero ficar deitado com você. Só quero conversar com você.
- Sobre o que quer conversar?
- Onde você cresceu?

(ela conta um pouco de sua história, e enquanto o barulho de explosões na cidade começa a acontecer ele continua a lhe acariciar os cabelos e  lhe fazer perguntas sobre sua vida, sem tirar os olhos dela)

- Queria ter conhecido você há muito tempo, quando éramos crianças, diz Penny.
- Não poderia acontecer de outro jeito. Tinha que ser agora.
- Mas não temos tempo suficiente
- Nunca teríamos tido
- Estou com medo
- Eu estou loucamente apaixonado por você Penny. Você é a minha coisa preferida em todo o mundo
- Achei que, de alguma forma, salvaríamos um ao outro
- Nós salvamos Penny, e estou muito feliz por ter conhecido você.

(ela chora... e sorri)

Quem disse, então, que alguns instantes de pleno amor não são suficientes para uma vida inteira ter valido a pena? São estes momentos que adquirem uma capacidade de ordenação de tudo o que aconteceu em nossa vida, nos oferecendo um sentido e nos trazendo uma serenidade nunca conquistada. Não acham? Não é isto que, no fundo, buscamos?


Vindos de histórias de vida amargas, Dodge e Penny conheceram-se ha poucos dias, experimentam momentos tensos e divertidos e agora, instantes antes do fim do mundo, se encontram. Se abraçam, deitam lado a lado, com as mãos dadas e olhares voltados um para o outro. Enquanto aguardam o momento final travam o seguinte diálogo (do filme "Procura-se um amigo para o fim do mundo").

- Eu não quero dormir, tudo bem? Não me deixe dormir, prometa, diz Penny.
- Eu prometo. E seus pais?
- Eles são românticos e entenderão. Além disso eles têm um ao outro. Eu só quero ficar com você.
- E eu com você.
- Eu não poderia viver sem você. Não importa por quanto tempo. O que fazemos agora?
- Só quero ficar deitado com você. Só quero conversar com você.
- Sobre o que quer conversar?
- Onde você cresceu?

(ela conta um pouco de sua história, e enquanto o barulho de explosões na cidade começa a acontecer ele continua a lhe acariciar os cabelos e lhe fazer perguntas sobre sua vida, sem tirar os olhos dela)

- Queria ter conhecido você há muito tempo, quando éramos crianças, diz Penny.
- Não poderia acontecer de outro jeito. Tinha que ser agora.
- Mas não temos tempo suficiente
- Nunca teríamos tido
- Estou com medo
- Eu estou loucamente apaixonado por você Penny. Você é a minha coisa preferida em todo o mundo
- Achei que, de alguma forma, salvaríamos um ao outro
- Nós salvamos Penny, e estou muito feliz por ter conhecido você.

(ela chora... e sorri)

Quem disse, então, que alguns instantes de pleno amor não são suficientes para uma vida inteira ter valido a pena? São estes momentos que adquirem uma capacidade de ordenação de tudo o que aconteceu em nossa vida, nos oferecendo um sentido e nos trazendo uma serenidade nunca conquistada. Não acham? Não é isto que, no fundo, buscamos?

(José Henrique P. e Silva)

sábado, 26 de julho de 2014

Ressentimento, Raiva e Mágoa!

De forma geral, bem geral, o "ressentido" se coloca como um "derrotado" que se identificou ao papel de "vítima" que, em consequência, elege "culpados" que, supostamente, lhe fizeram algum "mal". É nesse LUGAR DE VÍTIMA que se instala o ressentimento. 

Quando se coloca nesse lugar de vítima, o ressentido destina boa parte do tempo para "acusar", nem tanto para receber de volta algo que acha que lhe devem, mas para desejar que o outro esteja permanentemente reconhecendo o "mal" que teria lhe feito. É uma espécie de "vingança", sempre ADIADA, pois o gozo (satisfação, prazer) está na fantasia de ser "vítima", e não necessariamente na realização da vingança. 

É o que Freud chama de "COVARDIA MORAL", ou seja, o ressentido renuncia aos eu desejo para se submeter ao outro através de uma severa cobrança (discurso de vingança). Assim, no ressentimento, a vingança (nem o perdão) não se realiza, é um meio de gozo, assemelhando-se à melancolia. O sujeito fica aprisionado. Há uma repetição, uma insistência na queixa, um prazer com a dor. Esta é uma leitura que se pode fazer sobre o ressentimento!!!

Raiva e mágoa sãp sintomas que quase sempre estão presentes no ressentimento, mas não o explicam totalmente. A MÁGOA, por exemplo, é a dor de uma ferida narcísica (no Eu) ainda aberta e que, como o luto, precisa de um tempo para a reparação da perda, pois toda a libido (energia, pulsão, atenção) ainda está concentrada na ferida aberta. Por outro lado, a RAIVA tem prazo de validade já que busca uma solução na vingança ou no perdão. Então, no caso da raiva a vingança pode se concretizar, mas no ressentimento não, a vingança não se realiza. Como havia dito antes, o sujeito fica aprisionado a uma "repetição", uma insistência na queixa, um prazer com a dor.

(José Henrique P. e Silva)

Psicanálise é Psicoterapia?


Taí um tema para uma boa discussão. Psicanálise é psicoterapia?Para o público geral é praticamente impossível fazer diferença. E mesmo dentro da psicanálise essa distinção não é simples e muitos profissionais nem dão bola para tal debate. Mas é bom se tentar algo e, para isso tem um trabalho da Radmila Zygouris (Psicanálise e Psicoterapia, 2011, Ed. Via Lettera). Em um de seus primeiros parágrafos, ela diz:

... a psicoterapia se satisfaz em diminuir o sofrimento, enquanto a psicanálise visa uma modificação que vai além da supressão dos sintomas, podendo, inclusive, aceitar sua persistência (p. 5).

Ou seja, enquanto a psicoterapia visa a supressão do sintoma (sua "cura"), a psicanálise é muito mais um "mecanismo" que funciona "podendo" levar a essa "cura". Se a psicoterapia tem um compromisso maior com o SINTOMA, o compromisso da psicanálise é mais com o INDIVÍDUO. Mas, essa demarcação é bem nítida mesmo? Ora, na própria psicanálise as demandas estão cada vez mais caracterizadas pela busca de espaços para "FALAR" e não necessariamente fazer "ANÁLISE". Dá para recusar estas demandas por "falar"? Ora, vez por outra uma demanda dessas por "falar" acaba se transformando em uma dinâmica analítica. Mas, isso significa que a psicanálise tem que aceitar todas as demandas? Não! E, como recusar? É preciso se saber bem o que estamos tratando com a psicanálise! Nosso método e nossa técnica ainda está guiado pela "transferência". Se for para ela não ocorrer, o que estaremos fazendo ali com o paciente? Análise certamente não será! Enfim, bom tema para se debater entre os profissionais!!!

(José Henrique P. e Silva)

Transitoriedade!

É na transitoriedade das coisas que descobrimos sua beleza...! Se fossem eternas para que amá-las? Talvez isso ajude a entender porque "amor" e "perda" sempre caminhem tão pertinhos um do outro!!!

(José Henrique P. e Silva)

O jogo da seriedade que esconde a loucura!

"...O palhaço não sou eu, mas sim esta sociedade monstruosamente cínica e tão ingenuamente inconsciente que joga o jogo da seriedade para melhor esconder a loucura..." 

(Salvador Dali)


Opa...grande frase do mestre so surrealismo (Salvador Dali)...que tanto bebeu da fonte da psicanálise!!!

A "mortificação do corpo" pelo excesso de cuidado

É claro que a massificação de certas ideias só funciona porque nossa "percepção" se uniformiza, perdendo muito de sua capacidade crítica. Estou falando sobre isso porque esta semana vi a foto de um bebê no facebook e havia um comentário assim: "nossa, quanta celulite!". Claro que era um comentário isolado e em tom de brincadeira, mas é um comentário que retrata bem algo que ocorre de forma mais ampla, afinal já existe uma "onda" de se tratar até fotos de bebês com photoshop antes de irem para os álbuns. 

Vivemos um momento de plena exaltação do "corpo", saúde e beleza foram associadas diretamente à ideia de um corpo jovem e bem cuidado. Ok, o problema, como sempre, está no excesso que essa ideia transmite. Por que o cuidado excessivo com o corpo? São cada vez mais frequentes, nesse culto do corpo, os casos de problemas de autoimagem que vão parar nos consultórios.

Gosto de usar o conceito de "mortificação do corpo" para entender um pouco isso tudo, sempre lembrando que, hoje, cuidar excessivamente do corpo, mais do que algo do "feminino" e de uma imposição cultural às mulheres, é reflexo de uma "CULTURA DO CORPO". Uma cultura que segue a lógica em que tudo vira uma "mercadoria". O drama é que quanto mais olhamos para o "corpo" menos somos capazes de enxergar nossa subjetividade, interioridade. Elegemos o "corpo" como nossa principal mercadoria em busca de uma satisfação plena, que nos imortalize e rompa com todos os nossos limites. Acho que é muito pouco e, pior, estamos transformando o "corpo" em depósito cada vez maior de nossas ansiedades e angústias!!!

Cuidar do corpo? Ótimo!!! Mas a questão é: Estamos cuidando excessivamente do corpo para não cuidar de outras coisas?

(José Henrique P. e Silva)

Responsabilzação!

Tem outra saída? Há como escapar às responsabilidades?
Foto: Tem outra saída? Há como escapar às responsabilidades?

Ilusão de Controle!

Opa!!! Dessa é difícil nos livrarmos...rsrs!

Foto: Opa!!! Dessa é difícil nos livrarmos...rsrs!

A paixão no ato de escrever!

Gosto de ler, seja como obrigação seja como hobby e, como leitor, gosto de textos que contenham dois impulsos fundamentais: o impulso da "LÓGICA" e o da "REBELDIA". Sim, porque, por vezes, o autor precisa viver uma espécie de "conflito produtivo", encontrar alguma oposição pela frente para fazer algo melhor, mais intenso. E gosto de textos que transmitem esse "conflito". Mas, ainda como leitor, o que me parece mesmo fazer com que um texto consiga adentrar no imaginário é a utilização de um terceiro impulso, o da "PAIXÃO", aquele impulso que te faz colocar-se, enquanto escritor, no lugar do leitor, respeitá-lo, querer que ele te entenda, que acompanhe teu raciocínio e que chegue, junto com você, às conclusões. É este impulso que impede ao escritor, acredito, assumir uma posição arrogante, essencialmente vaidosa, tão típicas de posturas intelectualizantes que, na verdade, são apenas carentes de atenção e maior segurança. A paixão na escrita ajuda a revelar um escritor que não quer somente "aceitação" e "aplauso". O discurso da "paixão" precisa do leitor, e do seu amor. Acho que é por isso que talvez me apaixone por certos autores e certos livros.

(José Henrique P. e Silva)

O consultório como laboratório para a Psicanálise

A Psicanálise foi construída, em grande parte, a partir das experiências de Freud com os seus próprios pacientes. Era ali, em seu consultório, em meio às sessões que teorias foram criadas, reforçadas ou abandonadas. Um exemplo está narrado no documentário "A Invenção da Psicanálise" (1997), trecho em que fica claro o "nascimento" do divã e da maior atenção à "palavra". O trecho é narrado, em parte, por E. Roudinesco:

“...Quando Freud abriu seu consultório particular tratava essencialmente mulheres da burguesia vienense sofrendo de neuroses: doença dos nervos, neurastenia, histeria. Foi em 1889 que uma paciente, Fanny Mozer, ordenou que Freud se afastasse dela e não se mexesse. 

- Não fale comigo, não me toque. Escute-me, disse ela

- Abandonei a hipnose e mantive a posição deitada do paciente em uma cama atrás da qual eu ficava sentado, de modo a vê-la sem ser visto por ela, nos contou Freud tempos depois. 

Ele inventou o divã. Se retirou (para outra posição) para que a palavra se tornasse o ato terapêutico EM SI. Não haveria mais nada. Nem magnetismo, nem hipnose ou olhares. Só a palavra.

(José Henrique P. e Silva)

O vazio traduzido na compulsão pelo dinheiro e o poder!

A ânsia de dinheiro por parte de Kane, ao longo de sua vida, só foi proporcional ao tamanho de seu vazio e amargura!!!
Foto: A ânsia de dinheiro por parte de Kane, ao longo de sua vida, só foi proporcional ao tamanho de seu vazio e amargura!!!

A impossibilidade de amar!

O filme trata de uma daquelas situações onde a pessoa se coloca na "impossibilidade" de amar, se fechando em uma armadura, forte e resistente, para proteger-se de si mesmo!!! Mas, há uma saída!!!

Foto: O filme trata de uma daquelas situações onde a pessoa se coloca na "impossibilidade" de amar, se fechando em uma armadura, forte e resistente, para proteger-se de si mesmo!!! Mas, há uma saída!!!

Psicanálise e Biofarmacologia

Qualquer um sabe que entre a psicanálise e a biofarmacologia existem encontros e desencontros. E é natural que seja assim, pois embora tratem do indivíduo elas o enxegam de ângulos distintos. Enquanto a Biofarmacologia, evidentemente, valoriza o sintoma, o corpo, o orgânico, o cérebro, o bioquímico, a Psicanálise enfatiza o PSÍQUICO e sua capacidade de afetar nossos pensamentos, ações e nosso corpo. Nunca vi motivos para uma rixa tão grande assim entre as duas disciplinas, pois a biofarmacologia, assim como a psicanálise, tem seu campo de atuação, suas conquistas. O porém que a Psicanálise coloca é quando a biofarmacologia tira do sujeito (através da medicação excessiva) aquilo que lhe é constituidor da identidade: A FALA. 

Dopar, manter em estado de torpor, pode ser um recurso útil em momentos de crise aguda onde a existência do sujeito está em risco, mas fazer disso uma prática de "cura" é só alcançar um mínimo "controle" que inviabiliza qualquer possibilidade de buscar alguma funcionalidade naquele sujeito. Mas, esta é uma discussão difícil. A sociedade e a mídia estão muito próximas da ideia de uma "cura" que venha exclusivamente através da medicação. Além disso, numa comparação simplista, o valor do tratamento inicial com fármacos antidepressivos, por exemplo, parece inferior ao da análise, embora esta, no médio e longo prazos apresente menor reincidência da depressão e efeitos mais duradouros, além de dotar o indivíduo de capacidade de enfrentamento à depressão. É um longo debate, e nenhuma solução virá como regra geral para todos. Até porque nem todos se adaptam às medicações e nem todos se adaptam à análise. O importante é manter o debate e oferecer ao indivíduo a possibilidade de escolher o que quer e o que pode fazer de si mesmo!!!

(José Henrique P. e Silva)

Algo sobre o Borderline!

O Borderline, ou aquele que padece pelas situações limítrofes em que se encontra, tem uma subjetividade que se pode chamar de "pipocada", ou seja, não faz a junção de suas experiências (não constitui o que seria um“almoxarifado”) e nem as utiliza como aprendizado a seu favor; Vive momentos intensos de regressão infantil; nada se mantém nele; sua percepção falha constantemente; a impulsividade é marcante; o pensamento inconstante; há montanha russa no humor; uma severa inconstância de afetos. A dificuldade em regular suas emoções é cruel, não a toa o surgimento de instantes de vivência caóticos com sentimentos de perda fortíssimos, riscos de automutilação e até tentativas de suicídio. É Borderline porque se está à beira de uma total perda de controle!!!

(José Henrique P. e Silva)

domingo, 20 de julho de 2014

20.07.2014 - A "vida real" que desarma o espírito crítico!


A "VIDA REAL" QUE DESARMA O ESPÍRITO CRÍTICO!

Por vezes somos ferozes críticos da política do "pão e circo". E com razão, pois ela é mesquinha e manipuladora. E como parece ter estado em evidência ultimamente, ou sempre, sei lá! 

Mas, o que ando me questionando é sobre o que autoriza alguém a agredir, ofender e chamar de "ignorantes" e "estúpidos" alguns grupos sociais que, pela sua extrema pobreza, dependem quase que exclusivamente de uma ajuda governamental ou mesmo de uma oportunidade de diversão patrocinada pelo dinheiro público? 

Não estou aqui fazendo uma defesa do clientelismo ou do "coitadismo" como alguns chamam por aí. Não se trata disso! Estou olhando a questão por outro ângulo, o de alguns grupos que sequer imaginam-se participando de uma vida política. 

Não é fácil, então, assumir uma postura "crítica". E precisamos saber bem para quem estamos dirigindo esta crítica pois a "vida real", em seu duro cotidiano, conspira contra nossa autonomia de pensamento, quanto mais à daqueles que sequer conseguem uma autonomia do corpo, da saúde, do alimento. 

A "crítica" só é fácil quando não leva em conta a "vida real". Existem oportunistas em invasões de terreno? Existem! Existem oportunistas em programas sociais? Existem! Mas nada disso serve para se entender a "vida real". 

E, pior, em tempos de eleição, as visões sobre o mundo ficam muito maniqueístas, dualistas, prisioneiras de uma suposta disputa entre o "bem x mal". Ora, as pessoas não são simplesmente "vítimas", ou "adeptas", do "pão e circo". As pessoas agem e pensam conforme sua capacidade de entender e lidar com a "vida real". E esta, muitas vezes, desarma qualquer espírito crítico, deixando falar mais alto a sobrevivência e os resquícios de uma chance mínima de ser feliz, ainda que por alguns instantes.

Ora, então, porque acusar o mais pobre de ser ignorante e manipulado se poderíamos dizer a mesma coisa a respeito da classe média que, em épocas de eleição aproveita o feriado para uma viagem ao litoral ou ao exterior? 

O desafio, portanto, está sempre em se desvendar os movimentos dessa "vida real" e no que ela nos transforma. Só assim poderemos encontrar essa "identidade secreta" que nos une, mas nunca é tao aparente.

É o nosso desafio, o desafio daqueles que possuem melhores condições de olhar para a sociedade e traçar alguma análise minimamente coerente!

(José Henrique P. e Silva)

20.07.2014 - Dia do Amigo?


DIA DO AMIGO?


Então hoje, 20 de julho, é dia do amigo?

Em tempos de Facebook nada mais banal que o termo "amizade", mas isso não lhe tira o valor. É só sermos resistentes e exigentes com o seu significado, sabendo lhe reconhecer toda a importância para nossa vida! 

Mas, que sentimento é este da "amizade"?

Sabemos que tem origem em nossa infância, quando experimentamos satisfações com nossos primeiros laços amorosos, laços sociais em última instãncia, quando deixamos de amar a nós mesmos para também desejar o outro por perto.

É a lembrança dessas satisfações que mantém o nosso desejo, hoje, em recuperar aqueles momentos de aventura, coragem e de medo, sempre compartilhados com nossos colegas. Era naquele "estar juntos" que elaborávamos nossa identidade e criávamos os laços ... de amizade. 

Talvez seja por isso que, quando penso em "amizade" sempre me pego relembrando do filme "Conta Comigo" (Rob Reiner, 1986) que nos permite "viagens" maravilhosas, além de ter uma trilha sonora impecável. 

E, como diz seu personagem principal, na cena final: 
"...Eu nunca mais tive amigos como os que tive quando tinha 12 anos. Mas, meu Deus, e alguém tem?... sei que terei saudades para sempre...". 
Pois é... foram tempos heróicos, de grandes aventuras, que não voltam mesmo. Mas, ainda assim, vez por outra, conseguimos trazer de volta aquela "satisfação" e experimentar aquela sensação de que, mesmo que o céu caia na nossa cabeça, nós não desmoronamos enquanto pudermos viver uma amizade.

E, apesar de naqueles momentos heróicos terem sido forjadas intensas amizades, hoje nós conseguimos também forjá-las, construí-las. O que nos parece intenso e inigualável é a sensação experimentada na época. mas, quando crianças tudo em nós é mais intenso e nos marca de forma ainda mais definitiva.

O que é, então, a amizade senão aquela estrondosa sensação de prazer que experimentamos quando podemos compartilhar coragem, amor... e o medo de perder! 

Só não podemos é perder o gosto por essa "satisfação" que experimentamos na amizade. Se perdermos, o que restará mesmo de tão interessante assim na vida?

Um beijo a todos os meu amigos, de ontem, de hoje, distantes, próximos, que eu posso abraçar e os que só posso trocar palavras. Todos ocupam um espaço significativo em mim. Eu me constituo de vocês!!!

(José Henrique P. e Silva)

sábado, 5 de julho de 2014

Um pouco sobre o recalque e a castração!

Foto: UM POUCO SOBRE O RECALQUE (não o da Valeska Popozuda!)

Recalque, Repressão, Castração, de forma geral, podem ser vistos como sinônimos na psicanálise e dizem respeito àquele processo psíquico que coloca um limite em nossa tentativa de uma plena satisfação, um gozo sem limites. É um processo que nos instaura definitivamente a "realidade" (com seus limites) e nos "divide" como sujeitos, abrindo espaço, muitas vezes, para as neuroses, já que boa parte de nossos desejos vão habitar o inconsciente. É a repressão, o recalque, a castração, enfim, que nos permite falar claramente que, além de um sujeito "racional" e "consciente" somos um outro sujeito, "inconsciente", e que vem à tona quebrando o paradigma de nossa pretensa "racionalidade". Freud chamava a isto de uma fortíssima "ferida narcísica", pois colocava nossa crença na razão, de joelhos. São nossos desejos (proibidos), portanto, que são "recalcados" e que, vez por outra, apesar de bem "escondidos" por nossas neuroses, se manifestam em sonhos, atos falhos e em outros sintomas, inclusive no corpo. Não estamos falando de "invejinhas", portanto. O buraco é mais embaixo!!!

(José Henrique P. e Silva)
Recalque, Repressão, Castração, de forma geral, podem ser vistos como sinônimos na psicanálise e dizem respeito àquele processo psíquico que coloca um limite em nossa tentativa de uma plena satisfação, um gozo sem limites. É um processo que nos instaura definitivamente a "realidade" (com seus limites) e nos "divide" como sujeitos, abrindo espaço, muitas vezes, para as neuroses, já que boa parte de nossos desejos vão habitar o inconsciente. É a repressão, o recalque, a castração, enfim, que nos permite falar claramente que, além de um sujeito "racional" e "consciente" somos um outro sujeito, "inconsciente", e que vem à tona quebrando o paradigma de nossa pretensa "racionalidade". Freud chamava a isto de uma fortíssima "ferida narcísica", pois colocava nossa crença na razão, de joelhos. São nossos desejos (proibidos), portanto, que são "recalcados" e que, vez por outra, apesar de bem "escondidos" por nossas neuroses, se manifestam em sonhos, atos falhos e em outros sintomas, inclusive no corpo. Não estamos falando de "invejinhas", portanto. O buraco é mais embaixo!!!

O narcisismo e o desejo de ser célebre a todo custo


Em maio/2011, na Folha, o psicanalista C. Calligaris discutiu algo do narcisismo contemporâneo. Após nos lembrar que, para Hegel ("Fenomenologia do Espírito"), enquanto o Mestre desafiava a morte em nome da honra, o Servo era aquele que apegava-se ao desejo de viver a todo custo. Trata-se de uma questão atual pois o desejo de "viver eternamente", "brilhar", ter "fama" e ser "célebre" nunca foi tão forte como hoje. Há um excessivo "apego" à vida que contrasta com aquela coragem do antigo Mestre, pois, muitas vezes, deixaríamos a dignidade em troca da fama. São nessas situações que ocorreria o chamado EFEITO ESPELHO, ou seja, a busca pela fama a todo custo já revelaria, em si, um transtorno narcísico, por parte de indivíduos inseguros que buscam RECONHECIMENTO através da maior visibilidade, o que lhes dá uma sensação de poder, ou seja, "segurança" interna, ainda que provisória. 

Tais "celebridades" seriam um tipo de "aristocracia ao avesso", onde o excessivo apego à vida a revelaria fraca. Fraca de substância interna, desinteressada pela sua própria interioridade, com dificuldades de construir laços sociais, e de se ancorar na realidade, o que abre largos espaços para a fantasia e outros sofrimentos (depressão, vícios etc.). Isso nos diz muito, realmente, de algumas "celebridades" atuais. 

(José Henrique P. e Silva)

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O movimento para a mudança!

Foto

Isso tem o cheiro de uma "regrinha" da qual não podemos escapar...todo movimento no sentido de uma libertação, de uma transformação, de uma emancipação, vai exigir que nos deparemos com aquilo que nos aprisiona e nos dá algum sentido até aquele momento! Por isso, as vezes, ou quase sempre, a análise é um processo de olhar a si mesmo com a disposição de mudar!!!

(José Henrique P. e Silva)

Saudade!

A saudade é um sentimento tão poderoso que, embora você vá só até ali, te deixa com um nó na garganta antes mesmo de você partir... !!! Mas, novas trilhas precisam ser percorridas!!!

(José Henrique P. e Silva)

Explicando o suicídio?


Ontem ouvi rapidamente uma conversa entre duas pessoas, dessas conversas que a gente disfarça e fica com os ouvidos bem atentos rs. Mas o assunto não era tão agradável, pois falavam sobre o suicídio de uma pessoa conhecida delas. Logo percebi o quanto era enorme o susto delas, a surpresa, a tentativa de oferecer respostas simples como "fraqueza de espírito", "covardia", "fuga". Enfim, de alguma forma, sempre queremos encontrar uma explicação para um ato tão inusitado. São em momentos como estes que reforço a crença em que EXPLICAR UM SUICÍDIO É COMO TENTAR MONTAR UM QUEBRA-CABEÇAS ONDE SEMPRE FALTAM PEÇAS, ou seja, nada fecha, nada conclui...nada conforta!!! E, para os que estão mais próximos, o inexplicável se torna sem tamanho.

(José Henrique P. e Silva)

O cotidiano também traz oportunidades!

Foto: Dado o extremo apego a "comédias românticas" e certa resistência em encarar filmes "arrastados" e com diálogos longos, definitivamente, NEBRASKA (2013) não é um filme para grandes públicos. Mas, se você tiver um pouco de paciência e gostar mesmo de acompanhar os personagens buscando identificações nos pequenos gestos e expressões, pode gostar. O filme trata de um cotidiano horrível e maravilhosamente comum. Horrível porque nosso cotidiano pode ser entediante a ponto de nos tornarmos amargos, silenciosos e fáceis vítimas de uma FANTASIA que alimente algum tipo de esperança em nossa vida. Mas, maravilhoso porque é neste cotidiano simples e arrastado que nossas relações são construídas e podemos nos sentir parte de algo. É neste cotidiano, mesmo arrastado e amargurado, que temos sempre a chance de pequenas descobertas acerca dos que estão ao nosso redor e de nós mesmos. Lembranças, pequenas revelações, como que pequenas peças de um quebra-cabeças, vão surgindo e dando forma, fazendo sentido, ao que parecia desconexo. É assim que, uma pequena viagem, de poucos dias, pode possibilitar diálogos e descobertas que toda uma vida tinha esquecido ou transformado em amargura. Nada é garantia de certeza ou felicidade, mas... de alguma esperança! No final das contas, mesmo sem percebermos já estamos pertencendo a algo... a uma família, por exemplo. E não estamos tão sozinhos assim! E aí é o momento em que tantas fantasias devem dar lugar de volta à realidade, dura e fria, mas repleta de possibilidades e reencontros com os que amamos. Não perdemos nada com esses pequenos esforços... só ganhamos! Nos livramos de fantasias que nos paralisavam! 

(José Henrique P. e Silva)

Dado o extremo apego a "comédias românticas" e certa resistência em encarar filmes "arrastados" e com diálogos longos, definitivamente, NEBRASKA (2013) não é um filme para grandes públicos. Mas, se você tiver um pouco de paciência e gostar mesmo de acompanhar os personagens buscando identificações nos pequenos gestos e expressões, pode gostar. O filme trata de um cotidiano horrível e maravilhosamente comum. Horrível porque nosso cotidiano pode ser entediante a ponto de nos tornarmos amargos, silenciosos e fáceis vítimas de uma FANTASIA que alimente algum tipo de esperança em nossa vida. Mas, maravilhoso porque é neste cotidiano simples e arrastado que nossas relações são construídas e podemos nos sentir parte de algo. É neste cotidiano, mesmo arrastado e amargurado, que temos sempre a chance de pequenas descobertas acerca dos que estão ao nosso redor e de nós mesmos. Lembranças, pequenas revelações, como que pequenas peças de um quebra-cabeças, vão surgindo e dando forma, fazendo sentido, ao que parecia desconexo. É assim que, uma pequena viagem, de poucos dias, pode possibilitar diálogos e descobertas que toda uma vida tinha esquecido ou transformado em amargura. Nada é garantia de certeza ou felicidade, mas... de alguma esperança! No final das contas, mesmo sem percebermos já estamos pertencendo a algo... a uma família, por exemplo. E não estamos tão sozinhos assim! E aí é o momento em que tantas fantasias devem dar lugar de volta à realidade, dura e fria, mas repleta de possibilidades e reencontros com os que amamos. Não perdemos nada com esses pequenos esforços... só ganhamos! Nos livramos de fantasias que nos paralisavam! 

(José Henrique P. e Silva)