sábado, 9 de agosto de 2014

A razão e nossas pulsões!

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Essa talvez seja uma das frases de Freud mais difíceis de entender. Parece tudo muito simples, mas precisa ser lida em seu contexto mais amplo. Temos a "razão" sim e de lá retiramos nossa inteligência e capacidade de "domar" nossas pulsões e desejos...mas é uma "capacidade", não há ai um determinismo. O que há é uma luta constante entre a pulsão que deseja sua satisfação e nossos limites colocados pela razão e pela necessária vida em sociedade. Não é a razão que nos torna humanos, nem os desejos são o que nos torna humanos...acho que é esta "luta constante" que nos torna humanos!!!

(José Henrique P. e Silva)

O necessário amadurecimento!

"A gente deixa de ser jovem quando entende que falar do sofrimento não é uma perda de tempo..." 
(Bianca, "Sessão de Terapia", GNT, 04.08.2014).

A frase é muito boa. Fala de um "amadurecimento" que pouco tem a ver com a idade, mas com uma mudança no ângulo a partir do qual se enxerga a vida, um ângulo agora menos voltado para o lado de fora, e mais voltado para o lado de dentro...não dá pra recusar indefinidamente este olhar para dentro. É só aí que falar do sofrimento deixa de ser mesmo uma perda de tempo! Talvez este seja um dos principais pontos que definam o que é o "amadurecimento", e insisto, nada tem a ver com "idade cronológica"... nunca teve!

(José Henrique P. e Silva)

Pulsão de morte!

Foto: Nesta frase de Freud um ponto muito interessante. Desde o seu início, a psicanálise sempre viu no "amor" uma força central e quase exclusiva no ser humano. Foi com o tempo, muitos anos depois, que Freud começou a enxergar que o impulso pela "morte" pode ser tão forte quanto. Pulsão de vida e pulsão de morte seriam aquelas duas grandes forças que nos movimentam. Alguma dúvida sobre a "pulsão de morte"? Basta pensar naquela força que nos rebaixa quando em um estado depressivo, ou aquela ausência de vitalidade, por exemplo, em um estado melancólico. É uma força poderosa. Não pode ser desmerecida!!!

(José Henrique P. e Silva)
Nesta frase de Freud um ponto muito interessante. Desde o seu início, a psicanálise sempre viu no "amor" uma força central e quase exclusiva no ser humano. Foi com o tempo, muitos anos depois, que Freud começou a enxergar que o impulso pela "morte" pode ser tão forte quanto. Pulsão de vida e pulsão de morte seriam aquelas duas grandes forças que nos movimentam. Alguma dúvida sobre a "pulsão de morte"? Basta pensar naquela força que nos rebaixa quando em um estado depressivo, ou aquela ausência de vitalidade, por exemplo, em um estado melancólico. É uma força poderosa. Não pode ser desmerecida!!!

(José Henrique P. e Silva)

A naturalidade da morte!

Foto: Freud parecia anunciar nossos tempos atuais quando criticava o forte desejo de "imortalidade" tão difundido na atualidade. Para que desejar tanto viver mais longamente se o fundamental seria desejar viver o menor desgosto possível. A existência possui um "ciclo" e este deve ser compreendido e aceito. Não à toa, na atualidade, a busca inconsciente pela "imortalidade" tem como um de seus principais danos o acúmulo de desgostos com a própria vida!!!

(José Henrique P. e Silva)
Freud parecia anunciar nossos tempos atuais quando criticava o forte desejo de "imortalidade" tão difundido na atualidade. Para que desejar tanto viver mais longamente se o fundamental seria desejar viver o menor desgosto possível. A existência possui um "ciclo" e este deve ser compreendido e aceito. Não à toa, na atualidade, a busca inconsciente pela "imortalidade" tem como um de seus principais danos o acúmulo de desgostos com a própria vida!!!

(José Henrique P. e Silva)

O necessário rigor na prática clínica psi

Tenho visto muitas "aventuras" envolvendo a psicanálise por aí. Parece que ela tem sido vendida como uma espécie de "segunda profissão" para as horas vagas. Nao é assim! Não vai funcionar dessa forma! Não dá para brincar de ser psicanalista em um consultório. Claro que você pode dividí-la com outras afazeres da área, mas é preciso muito cuidado para manter certos rigores. Claro que você pode fazer uma formação em psicanálise para aperfeiçoar tua visão do mundo e ampliar a forma de ler a realidade. Mas, o manejo da técnica num consultório não é tão simples como muitos pensam e o processo que envolve fala e escuta está cheio de pormenores que exigem rigor metodológico e conceitual.

Nem por isso, entretanto, trata-se de uma profissão que tem boa aceitação. Aquilo que Freud dizia ainda está valendo: a psicanálise é, a todo tempo, atacada. Mas, apesar de tudo, me orgulho da forma como nossa atuação é "regulada". Muitos profissionais já ouviram falar do tal "tripé" necessário para nossa atuação clínica, mas nem todos, infelizmente, o levam tão a sério. E esse recado tem que ser dado principalmente aos mais novos. 

Do que estou falando? De que para tornar-se um profissional da psicanálise, especialmente, você precisa, além de uma formação teórica ampla (curso superior + formação específica de 3 ou 4 anos em psicanálise), precisa manter-se em ATUALIZAÇÃO CONSTANTE com a teoria e a técnica (seminários, cursos de formação etc.), precisa manter-se em ANÁLISE PESSOAL (como avançar com o paciente se não avançamos em nossas próprias questões?) e precisa manter-se com SUPERVISÃO CLÍNICA (como suportar os atendimentos sem o apoio de um olhar diferente que vem de um outro profissional?). 

É nesta "rede" que nos situamos. Não há como escapar dela. Sentimos falta de cada uma das pontas deste tripé em nosso dia a dia na clínica! O alerta que sempre faço aos colegas do campo psi é o de que, em nossa área de atuação, não existem "manuais" ou "modelos" a seguir como se fossem "receitas de bolo" onde abrimos a página para fazer um diagnóstico e receitar algo. Ou nos abrimos para um diálogo constante com a novidade ou perderemos toda a vitalidade e energia nos nossos atendimentos, e só estaremos fazendo o "mais do mesmo"! É o preço que pagamos por nossa escolha!!!

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

06.08.2014 - O medo de dizer "não"!

Se tem um terreno pantanoso e perigoso de se caminhar é o da educação dos filhos. Seja para quem educa, seja para quem quer conversar a respeito, nunca é fácil lidar com a situação. Mas, a despeito dos riscos há sempre algo que pode ser dito e, quem sabe, melhorarmos nossa atenção e atuação. Eu, por exemplo, confesso que as vezes me pego surpreso com as buscas por uma espécie de "manual de orientações" para a educação dos filhos. 

Parece que esta busca tem sido mais que comum hoje em dia, tempos em que as "intuições naturais" e os "velhos modos" de se lidar com a questão parecem ter sido abandonados em prol de uma extrema dependência de "conselhos" de profissionais, a voz de "autoridades" (psicólogos, professores, pediatras etc.), o que leva a um abandono de si mesmo e em todo o conhecimento já adquirido.

Mas, vamos lá. Um exemplo bem claro disso está naquela situação que, para muitos pais, vira sinônimo de uma quase "desgraça": dizer um "não" para o filho! Tudo bem, é claro que é difícil dizer um "não", afinal, quem quer "magoar" um filho? Quem quer vê-lo "triste" por qualquer motivo que seja? Mas, a questão é que este "não", por vezes, é uma demanda do próprio filho. A criança as vezes não só precisa ouvir a palavra, como parece nos exigir que ela lhe seja dirigida. 

Por incrível que parece dizer um "não" a um filho parece nos fazer sentir "fracos". Não é fraqueza. Talvez seja algo mais próximo do medo de "falhar". Mas, por falar em fraqueza, o que a criança não precisa mesmo é de pais "fracos". Mas, além de pais "fracos", ela não precisa também só de pais "amigos". O que ela precisa mesmo é de "pais"! Pais que estejam dispostos a assumir suas funções mais simples e naturais. Aquelas funções de atender às duas necessidades fundamentais às crianças: acolhimento e limite

Quando uma destas duas necessidades falta em demasiado é praticamente certo o surgimento de dores de cabeça mais sérias. Ora, então as duas únicas coisas contra as quais devemos ser muito críticos, e nos precaver, é a violência (física ou psicológica) e o déficit de afeto. Fora isso, existem mil possibilidades de relacionamentos entre pais e filhos e cada uma com o seu próprio e merecido valor, pois não existem pais iguais e nem filhos iguais, onde um sirva de modelo para o outro.

É claro que a "educação" acontece entre a autoridade e a flexibilidade, e justamente por isso pretender encontrar uma "fórmula ideal" é pura perda de tempo. Como encontrar o ideal no "entre", no "meio caminho"? Não dá! O "ideal" nada mais é que aquele encaixe que está sempre à beira de um "clic", pois está sempre sendo desafiado pelas circunstâncias da realidade. Então, por exemplo, ser "amigo" do filho não significa que, em determinados momentos, não tenhamos que ser duros ao impor um limite e sustentar uma posição. É assim, com afeto e limites que a criança vai se estruturando, e vamos conseguindo realizar nossas funções.

Não precisamos ter vergonha em dizer "não" para um filho. O que é vergonhoso mesmo são as agressões e a recusa ao afeto. A trilha da educação não é a de uma estrada bem pavimentada. É uma trilha mesmo, daquelas cheias de armadilhas mas, é em meio a esses percalços que vão se dando os momentos de amizade, momentos de afeto, momentos de impor limites. O que não dá é para "pasteurizar" nossos comportamentos como pais e adotarmos recomendações como se fossem "receitas" que servem para todos e para todas as ocasiões. Não tem jeito! Assumir as funções de pais nos exige mergulhar nas situações do cotidiano de nossos filhos. E, nesse processo, temos que deixar mais espaço para os instintos, para o que é natural, para o que aprendemos com a vida e com outras gerações anteriores. Não precisamos nos robotizar para fantasiar a ideia de que vamos fornecer a educação "ideal" para nossos filhos. Essa educação não existe e, nessa busca só perdemos a naturalidade e entramos no perigoso terreno da paranóia!

O que pouco se conversa, entretanto, é sobre as razões pelas quais não se está conseguindo dizer "não" aos filhos. Aí temos que olhar para nós mesmos e nos perguntarmos sobre este porquê, afinal de contas, que medo é este que nos impede de mostrar limites nos nossos filhos? Claro que vendeu-se, durante um bom tempo, a ideia de que o "pai amigo" seria o substituto ideal do "pai bruto" da geração passada. O problema é que nem sendo "bruto" nem sendo "amigo" se garante, necessariamente, as duas faces da moeda tão necessárias à crianças: os limites e o afeto. O "bruto" e o "amigo" são apenas variáveis de nossa dificuldade em lidar com esta tremenda tarefa de, com amor e cuidado, mostrar os melhores caminhos e riscos para nossos filhos, sem nos sentirmos culpados por nada!

"Limites". Parece uma palavra banida do dicionário. Parece uma palavra que nos assusta, que agride, que impede o próprio desenvolvimento, que tira a liberdade. Besteira! Nada tira mais a liberdade de uma criança que não poder contar com a necessária margem que o cuidado e a atenção dos pais oferece à seus ímpetos. Não é o "limite" que freia a criança em seu desenvolvimento e a falta dele que não lhe dá parâmetros para saber como buscar e como ser livre, de fato. Por que, então, o medo de dizer "não"? Nenhum "não" é tão prejudicial à criança quanto a própria falta de "limites"!

"Educação ideal", "pai amigo", "fim dos limites"... manifestações de nossos medos em falhar. Mas, não precisamos ter medo de falhar. É claro que alguma coisa sempre escapará na educação dos nossos filhos e nos lamentaremos por isso. Mas, mostrando a eles que podem contar conosco (para protegê-los e para lhes ensinar a conquistar a liberdade necessária) chegará o momento em que eles nos liberarão dessa tarefa e poderemos, enfim, relaxar um pouco mais... Um pouquinho mais pelo menos rsrs!!!

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

1926 - A última entrevista de Freud!

Em 1926, Freud concedeu uma entrevista ao jornalista americano George Sylvester Viereck¹ que julgava-se perdida, e hoje encontra-se entre as preciosidades da biblioteca da "Sigmund Freud Society". Na entrevista, Freud toca num dos pontos mais sensíveis aos homens, a morte. Não de forma tão direta, mas nos leva a pensar nela através das coisas simples que dão o valor necessário à vida. Para Freud, o tempo do envelhecimento é o tempo da "humildade", da aceitação da vida em sua simplicidade. É um tempo, também, marcado pelas "dores", cujos objetivos parecem ser o de tornar a morte mais tolerável, como um "golpe final" que alcança a todos. 

Por que, então, se rebelar contra ela? Por que não olhar para trás e reverenciar os momentos vividos, em cada detalhe? "Que mais posso querer?", indaga Freud. A fama ou o sentimento de "imortalidade" de seu nome não o fascinam tanto quanto a sua obra: "o trabalho é a minha fortuna". 
"Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo (...) Não há motivo para desejar viver mais longamente. Mas há todo motivo para desejar viver o menor desgosto possível. Eu sou razoavelmente feliz, porque sou grato pela ausência de dor e pelos pequenos prazeres da vida, pelos meus filhos e por minhas flores".
Contrariando a preocupação, bastante geral, com o desejo de imortalidade, Freud diz que "talvez morramos porque desejamos morrer (...) toda morte é um suicídio disfarçado". Ou seja, tanto o desejo de vida como o de morte nos habitam. É isto que, de alguma forma, completa o "ciclo" da existência. Nesse contexto, a psicanálise é enaltecida em sua capacidade de tornar a vida mais simples, reordenando nossos impulsos dispersos no labirinto que é nosso inconsciente. A seguir, a íntegra da entrevista que é um dos melhores textos que já li. Sua capacidade de intrigar só não é maior que a capacidade de transmitir paz.

O valor da vida

(Quem fala é o professor Sigmund Freud, o grande explorador da alma. O cenário da nossa conversa foi uma casa de verão no Semmering, uma montanha nos Alpes austríacos. Eu havia visto o pai da psicanálise pela última vez em sua casa modesta na capital austríaca. Os poucos anos entre minha última visita e a atual, multiplicaram as rugas na sua fronte. Intensificaram a sua palidez de sábio. Sua face estava tensa, como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme, sua cortesia impecável como sempre, mas um ligeiro impedimento da fala me perturbou. Parece que o tumor maligno no maxilar superior necessitou ser operado. Desde então Freud usa uma prótese, para ele uma causa de constante irritação).

S. Freud: Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade, mas detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. De qualquer forma, prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção. Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos. 


(Freud se recusa a admitir que o destino lhe reserva algo especial). Por que (disse calmamente) deveria eu esperar um tratamento especial? A velhice, com suas agruras, chega para todos. Eu não me rebelo contra a ordem universal. Atinge uma pessoa aqui, outra ali. Seus golpes sempre alcançam um ponto vital. A vitória final pertence ao Verme Conquistador.
"Out - out are the ligths - out all! /And over each quivering form / The curtain, a funeral pall / Comes down, with the rush of a storm / And the angels, all palid and wan, / Uprising, unveiling, affirm / That the play is the tragedy "Man", / And its hero the Conqueror Worm."²
Tenho mais de setenta anos. Tive o bastante para comer. Apreciei muitas coisas – a companhia de minha mulher, meus filhos, o pôr-do-sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu. Que mais posso querer?

George Sylvester Viereck: O senhor teve a fama. Sua obra influi na literatura de cada país. O homem olha a vida e a si mesmo com outros olhos, por causa do senhor. Recentemente, no seu septuagésimo aniversário, o mundo se uniu para homenageá-lo – com exceção da sua própria Universidade.

S. Freud: Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconhecimento, eu ficaria embaraçado. Não há razão em aceitar a mim e a minha obra porque tenho setenta anos. Eu não atribuo importância insensata aos decimais. A fama chega apenas quando morremos e, francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não é virtude.

George Sylvester Viereck: Não significa nada o fato de que o seu nome vai viver?

S. Freud: Absolutamente nada, mesmo que ele viva, o que não é certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus filhos. Espero que suas vidas não venham a ser difíceis. Não posso ajudá-los muito. A guerra praticamente liquidou com minhas posses, o que havia poupado durante a vida. Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.

(Estávamos subindo e descendo uma pequena trilha no jardim da casa. Freud acariciou ternamente um arbusto que florescia). 

S. Freud: Estou muito mais interessado neste botão do que no que possa me acontecer depois que estiver morto.

George Sylvester Viereck: Então o senhor é, afinal, um profundo pessimista?

S. Freud: Não, não sou. Não permito que nenhuma reflexão filosófica estrague a minha fruição das coisas simples da vida.

George Sylvester Viereck: O senhor acredita na persistência da personalidade após a morte, de alguma forma que seja?

S. Freud: Não penso nisso. Tudo o que vive perece. Por que deveria o homem constituir uma exceção?

George Sylvester Viereck: Gostaria de retornar em alguma forma, de ser resgatado do pó? O senhor não tem, em outras palavras, desejo de imortalidade?

S. Freud: Sinceramente não. Se a gente reconhece os motivos egoístas por trás da conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar à vida. Movendo-se num círculo, seria ainda a mesma. Além disso, mesmo se o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro. No que me toca, estou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo.

George Sylvester Viereck: O senhor desaprova as tentativas de seu colega Steinach, de prolongar o ciclo da existência humana?

S. Freud: Steinach não tenta prolongar a vida. Ele apenas combate a velhice. Recorrendo ao reservatório de energia em nosso próprio corpo, ele ajuda os tecidos a resistir à doença. A operação de Steinach detém acidentes biológicos molestos, como o câncer em estágios iniciais. Torna a vida mais viável: não a torna mais digna de ser vivida. Não há motivo para desejar viver mais longamente. Mas há todo motivo para desejar viver o menor desgosto possível. Eu sou razoavelmente feliz, porque sou grato pela ausência de dor e pelos pequenos prazeres da vida, pelos meus filhos e por minhas flores.

George Sytlvester Viereck: Bernard Shaw sustenta que vivemos muito pouco. Ele acha que o homem pode prolongar a vida se assim desejar, levando sua vontade a atuar sobre as forças da evolução. Ele crê que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas.

S. Freud: É possível que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer. Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo de manter-se e o desejo da própria destruição. Do mesmo modo como um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e os impulsos de morte habitam lado a lado dentro de nós. A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: “Além do Princípio do Prazer”. No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante. Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da “febre chamada viver”, anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.

George Sylvester Vierneck: Isto é a filosofia da autodestruição. Ela justifica o auto-extermínio. Levaria logicamente ao suicídio universal imaginado por Eduard von Hartmann.

S. Freud: A humanidade não escolhe o suicídio porque a lei do seu ser desaprova a via direta para o seu fim. A vida tem que completar o seu ciclo de existência. Em todo ser normal, a pulsão de vida é forte o bastante para contrabalançar a pulsão de morte, embora no final resulte mais a forte. Podemos entreter a fantasia de que a Morte nos vem por nossa própria vontade. Seria mais possível que pudéssemos vencer a Morte, não fosse por seu aliado dentro de nós. Neste sentido (acrescentou Freud com um sorriso) pode ser justificado dizer que toda a morte é suicídio disfarçado. (Estava ficando frio no jardim. Prosseguimos a conversa no gabinete. Vi uma pilha de manuscritos sobre a mesa, com a caligrafia clara de Freud.)

George Sylvester Viereck: Em que o senhor está trabalhando?

S. Freud: Estou escrevendo uma defesa da análise leiga, da psicanálise praticada por leigos. Os doutores querem tornar a análise ilegal para os não médicos. A História, essa velha plagiadora, repete-se após cada descoberta. Os doutores combatem cada nova verdade no começo. Depois procuram monopolizá-la.

George Sylvester Vieireck: O senhor teve muito apoio dos leigos?

S. Freud: Alguns dos meus melhores discípulos são leigos.

George Sylvester Viereck: O senhor está praticando muito psicanálise?

S. Freud: Certamente. Neste momento estou trabalhando num caso muito difícil, tentando desatar os conflitos psíquicos de um interessante novo paciente. Minha filha também é psicanalista, como você vê …

(Neste ponto apareceu miss Anna Freud, acompanhada por seu paciente, um garoto de onze anos, de feições inconfundivelmente anglo-saxônicas).

George Sylvester Viereck: O senhor já analisou a si mesmo?

S. Freud: Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros. O psicanalista é como o bode expiatório dos hebreus. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.

George Sylvester Viereck: Minha impressão é de que a psicanálise desperta em todos que a praticam o espírito da caridade cristã. Nada existe na vida humana que a psicanálise não possa nos fazer compreender. “Tour comprec’est tout pardonner”.

S. Freud: Pelo contrário (esbravejou Freud – suas feições mudaram, assumindo a severidade de um profeta hebreu), compreender tudo não é perdoar tudo. A análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância com o mal não é de maneira alguma um corolário do conhecimento. (Compreendi subitamente porque Freud havia litigado com os seguidores que o haviam abandonado, porque ele não perdoa a sua dissensão do caminho reto da ortodoxia psicanalítica. Seu senso do que é direito é herança dos seus ancestrais. Uma herança de que ele se orgulha como se orgulha de sua raça). Minha língua é o alemão. Minha cultura, minha realização é alemã. Eu me considero um intelectual alemão, até perceber o crescimento do preconceito anti-semita na Alemanha e na Áustria. Desde então prefiro me considerar judeu. (Fiquei algo desapontado com esta observação. Parecia-me que o espírito de Freud deveria habitar nas alturas, além de qualquer preconceito de raças, que ele deveria ser imune a qualquer rancor pessoal. No entanto, precisamente a sua indignação, a sua honesta ira, tornava-o mais atraente como ser humano. Aquiles seria intolerável, não fosse por seu calcanhar!).

George Sylvester Viereck: Fico contente, Herr Professor, de que também o senhor tenha seus complexos, de que também o senhor demonstre que é um mortal!

S. Freud: Nossos complexos são a fonte de nossa fraqueza, mas com freqüência, são também a fonte de nossa força.

George Sylvester Viereck: Imagino quais seriam os meus complexos!

S. Freud: Uma análise séria dura ao menos um ano. Pode durar mesmo dois ou três anos. Você está dedicando muitos anos de sua vida à “caça aos leões”. Você procurou sempre as pessoas de destaque para a sua geração: Roosevelt, o Imperador, Hindenburg, Briand, Foch, Joffre, Georg Bernard Shaw…

George Sylvester Viereck: É parte do meu trabalho.

S. Freud: Mas é também sua preferência. O grande homem é um símbolo. A sua busca é a busca do seu coração. Você está procurando o grande homem para tomar o lugar do seu pai. É parte do seu “complexo do pai”. (Neguei veementemente a afirmação de Freud. No entanto, refletindo sobre isso, parece-me que pode haver uma verdade, ainda não suspeitada por mim, em sua sugestão casual. Pode ser o mesmo impulso que me levou a ele. Gostaria, observei após um momento, de poder ficar aqui o bastante para vislumbrar o meu coração através dos seus olhos. Talvez, como a Medusa, eu morresse de pavor ao ver minha própria imagem! Entretanto, receio ser muito informando sobre a psicanálise. Eu freqüentemente anteciparia, ou tentaria antecipar suas intenções).

S. Freud: A inteligência num paciente não é um empecilho. Pelo contrário, às vezes facilita o trabalho. (Neste ponto o mestre da psicanálise diverge de muitos dos seus seguidores, que não gostam de excessiva segurança do paciente sob o seu escrutínio).

George Sylvester Viereck: Por vezes imagino se não seríamos mais felizes se soubéssemos menos dos processos que dão forma a nossos pensamentos e emoções. A psicanálise rouba a vida do seu último encanto, ao relacionar cada sentimento ao seu original grupo de complexos. Não nos tornamos mais alegres descobrindo que nós todos abrigamos o criminoso e o animal.

S. Freud: Que objeção pode haver contra os animais? Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana.

George Sylvester Viereck: Por quê?

S. Freud: Porque são tão mais simples. Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de adaptar-se a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico. O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura. Muito mais agradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer. As emoções do cão (acrescentou Freud pensativamente) lembram-nos os heróis da Antigüidade. Talvez seja essa a razão por que inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis com Aquiles e Heitor.

George Sylvester Viereck: Meu cachorro é um doberman Pinscher chamado Ajax.

S. Freud: (sorrindo) Fico contente de que não possa ler. Ele certamente seria um membro menos querido da casa, se pudesse latir sua opinião sobre os traumas psíquicos e o complexo de Édipo!

George Sylvester Viereck: Mesmo o senhor, Professor, sonha a existência complexa demais. No entanto, parece-me que o senhor seja em parte responsável pelas complexidades da civilização moderna. Antes que o senhor inventasse a psicanálise, não sabíamos que nossa personalidade é dominada por uma hoste beligerante de complexos muito questionáveis. A psicanálise torna a vida um quebra-cabeças complicado.

S. Freud: De maneira alguma. A psicanálise torna a vida mais simples. Adquirimos uma nova síntese depois da análise. A psicanálise reordena um emaranhado de impulsos dispersos, procura enrolá-los em torno do seu carretel. Ou, modificando a metáfora, ela fornece o fio que conduz a pessoa fora do labirinto do seu inconsciente.

George Sylvster Viereck: Ao menos na superfície, porém, a vida humana nunca foi mais complexa. A cada dia alguma nova idéia proposta pelo senhor ou por seus discípulos torna o problema da condução humana mais intrigante e mais contraditório.

S. Freud: A psicanálise pelo menos, jamais fecha a porta a uma nova verdade.

George Sylvester Viereck: Alguns dos seus discípulos, mais ortodoxos do que o senhor, se apegam a cada pronunciamento que sai da sua boca.

S. Freud: A vida muda. A psicanálise também muda. Estamos apenas no começo de uma nova ciência.

George Sylvester Viereck: A estrutura científica que o senhor ergueu me parece ser muito elaborada. Seus fundamentos – a teoria do “deslocamento”, da “sexualidade infantil”, do “simbolismo dos sonhos”, etc… – parecem permanentes.

S. Freud: Eu repito, porém, que nós estamos apenas no início. Eu sou apenas um iniciador. Consegui desencavar monumentos soterrados nos substratos da mente. Mas ali onde eu descobri alguns templos, outros poderão descobrir continentes.

George Sylvester Viereck: O senhor ainda coloca a ênfase sobretudo no sexo?

S. Freud: Respondo com as palavras do seu próprio poeta, Walt Whitman: “Mas tudo faltaria, se faltasse o sexo”. Entretanto, já lhe expliquei que agora coloco ênfase quase igual naquilo que está “além” do prazer – a morte, a negociação da vida. Este desejo explica por que alguns homens amam a dor – como um passo para o aniquilamento! Explica por que os poetas agradecem a "quaisquer deuses que existam/Que a vida nenhuma viva para sempre/Que os mortos jamais se levantem /e também o rio mais cansado/Deságüe tranqüilo no mar”.

George Sylvester Viereck: Shaw, como o senhor, não deseja viver para sempre, mas à diferença do senhor, ele considera o sexo desinteressante.

S. Freud: (sorrindo) Shaw não compreende o sexo. Ele não tem a mais remota concepção do amor. Não há um verdadeiro caso amoroso em nenhuma de suas peças. Ele faz brincadeira do amor de Júlio César – talvez a maior paixão da História. Deliberadamente, talvez maliciosamente, ele despe Cleópatra de toda grandeza, reduzindo-a a uma insignificante garota. A razão para a estranha atitude de Shaw diante do amor, para a sua negação do móvel de todas as coisas humanas, que tira de suas peças o apelo universal, apesar do seu enorme alcance intelectual, é inerente à sua psicologia. Em um de seus prefácios, ele mesmo enfatiza o traço ascético do seu temperamento. Eu posso ter errado em muitas coisas, mas estou certo de que não errei ao enfatizar a importância do instinto sexual. Por ser tão forte, ele se choca sempre com as convenções e salvaguardas da civilização. A humanidade, em uma espécie de autodefesa, procura negar sua importância. Se você arranhar um russo, diz o provérbio, aparece o tártaro sob a pele. Analise qualquer emoção humana, não importa quão distante esteja da esfera da sexualidade e você certamente encontrará esse impulso primordial, ao qual a própria vida deve a perpetuação.

George Sylvester Viereck: O senhor, sem dúvidas, foi bem sucedido em transmitir esse ponto de vista aos escritores modernos. A psicanálise deu novas intensidades à literatura.

S. Freud: Também recebeu muito da literatura e da filosofia. Nietzsche foi um dos primeiros psicanalistas. É surpreendente até que ponto a sua intuição prenuncia as novas descobertas. Ninguém se apercebeu mais profundamente dos motivos duais da conduta humana, da insistência do princípio do prazer em predominar indefinidamente. O Zaratustra E diz: “A dor grita: Vai! Mas o prazer quer eternidade Pura, profundamente eternidade”. A psicanálise, pode ser menos amplamente discutida na Áustria e na Alemanha do que nos Estados Unidos, a sua influência na literatura é imensa, porém, Thomas Mann e Hugo von Hafmannsthak muito devem a nós. Schnitzler percorre uma via que é, em larga medida, paralela ao meu próprio desenvolvimento. Ele expressa poeticamente o que eu tento comunicar cientificamente. Mas o Dr. Schnitzler não é apenas um poeta, é também um cientista.

George Sylvester Vieireck: O senhor não é apenas um cientista, mas também um poeta. A literatura americana está impregnada da psicanálise. Hupert Hughes Harvrey O’Higgins e outros se fazem de seus intérpretes. É quase impossível abrir um novo romance sem encontrar referência à psicanálise. Entre os dramaturgos, Eugene O’Neill e Sydney Howard têm profunda dívida para com o senhor. “A The Silver Cord”, por exemplo, é simplesmente uma dramatização do complexo de Édipo.

S. Freud: Eu sei e apresento o cumprimento que há nessa constatação. Mas tenho receio da minha popularidade nos Estados Unidos. O interesse americano pela psicanálise não se aprofunda. A popularização leva à aceitação superficial sem estudo sério. As pessoas apenas repetem as frases que aprendem no teatro ou na imprensa. Pensam compreender algo da psicanálise porque brincam com seu jargão! Eu prefiro a ocupação intensa com a psicanálise, tal como ocorre nos centros europeus. A América foi o primeiro país a reconhecer-me oficialmente. A “Clark University” concedeu-me um diploma honorário quando eu ainda era ignorado na Europa. Entretanto, a América fez poucas contribuições originais à psicanálise. Os americanos são julgadores inteligentes, raramente pensadores criativos. Os médicos nos Estados Unidos e ocasionalmente também na Europa, procuram monopolizar para si a psicanálise. Mas seria um perigo para a psicanálise deixá-la exclusivamente nas mãos dos médicos, pois uma formação estritamente médica é, com freqüência, um empecilho para o psicanalista. É sempre um empecilho, quando certas concepções científicas tradicionais ficam arraigadas no cérebro estudioso. 

(Freud tem que dizer a verdade a qualquer preço! Ele não pode obrigar a si mesmo a agradar a América, onde está a maioria de seus admiradores. Apesar da sua intransigente integridade, Freud é a urbanidade em pessoa. Ele ouve pacientemente cada intervenção, não procurando jamais intimidar o entrevistador. Raro é o visitante que deixa sua presença sem algum presente, algum sinal de hospitalidade! Havia escurecido. Era tempo de eu tomar o trem de volta à cidade que uma vez abrigara o esplendor imperial dos Hasburgos. Acompanhada da esposa e da filha, Freud desceu os degraus que levavam do seu refúgio na montanha à rua, para me ver partir. Ele me pareceu cansado e triste, ao dar o seu adeus).

S. Freud: Não me faça parecer um pessimista (disse ele após o aperto de mão). Eu não tenho desprezo pelo mundo. Expressar desdém pelo mundo é apenas outra forma de cortejá-lo, de ganhar audiência e aplauso. Não, eu não sou um pessimista, não, enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz – ao menos não mais infeliz que os outros. (O apito de meu trem soou na noite. O automóvel me conduzia rapidamente para a estação. Aos poucos o vulto ligeiramente curvado e a cabeça grisalha de Sigmund Freud desapareceram na distância).
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¹ "Glimpses of the Great", G.S.Viereck, NY, London, Berlim. Acreditava-se que a entrevista estivesse perdida quando o Boletim da “Sigmund Freud House” publicou uma versão condensada, em 1976. Foi publicada também no livro "A Arte da Entrevista", Fabio Altman, Ed. Scritta, SP, 1995.

² "Apagam-se, apagam-se as luzes - todas!/ E sobre cada forma trêmula/ Cai a cortina, um pano mortuário/ Com um ímpeto de tempestade/ E os anjos, pálidos e lânguidos,/ Erguendo-se, desvelando-se, afirmam/ Que a peça é a tragédia "Homem"/ E o seu herói, o Verme Conquistador".

Marcas e Cicatrizes!

Somos repletos de marcas, algumas estão pelo corpo e são bem visíveis, mas outras não, são invisíveis e pouco gostamos de falar sobre elas. Estas estão em nossa mente. Estão ali, como cicatrizes, lembranças de momentos de dor. E, no final das contas, é bom que permaneçam por ali, pois nos lembram que estamos vivos... que sobrevivemos. O difícil é quando ainda não cicatrizam e ficam como que feridas abertas. Aí sim, significam que ainda têm o controle sobre nossa vida!

(José Henrique P. e Silva)

Neurose Obsessiva x TOC

Para muitos é estranho ouvir o termo "Neurose Obsessiva" já que se encontra muito difundido o termo "TOC" que, por sinal, acabou caindo no gosto popular. Admito que o termo TOC tem um conteúdo menos "pesado" que "Neurose Obsessiva" (termo mais utilizado pela psicanálise). Mas não se trata somente de uma escolha entre os dois termos. Tem algo mais aí!


Quando se fala em "TOC" o indivíduo tem a impressão de não estar falando de si, mas de uma doença cerebral com a qual parece não ter nada a ver e que precisa tratá-la com remédios. Mas, não é bem assim! No TOC, ou melhor, na Neurose Obsessiva, o sujeito está implicado até a alma (força da expressão!). Há um sofrimento de ordem "psíquica" (e não meramente "cerebral") e que remete ao inconsciente do sujeito. Pois é, não dá pra escapar dessa e cair na pílula simplesmente! Tem que trabalhar um pouco a si mesmo! Insisto que é muito importante DIFERENCIAR "psíquico" de "cerebral".

Quando nascemos estamos marcados por uma situação de desamparo, que o afeto materno vai tentar suprir. Mas, existem desencontros e, inegavelmente, nossa constituição está marcada por "falhas" ou "faltas". Mas é assim que nos formamos como sujeitos, com nossas necessidades e nossas buscas por satisfação. E a principal necessidade talvez seja a de que sejamos amados. Este é um exemplo de "desejo" (talvez o principal) que vai alimentando nosso inconsciente e nossa constituição psíquica. Como essa satisfação nunca é completa (castração) cada um de nós inventa o que se chama de "ficção" para sobrevivermos sem esta satisfação plena.

Por isso buscamos sempre o outro, na esperança de que atenda ao nosso pedido de amor (necessidade). A Neurose Obsessiva será uma destas "ficções" que criamos para ir sobrevivendo com os dramas causados por nossas "faltas". Portanto, "TOC" é um temo legal e de bom apelo popular, mas precisamos saber mesmo o que ele nos quer dizer, para não ficarmos acreditando que se trata somente de uma questão "cerebral" que pode ser "corrigida" com um "remédio"...é preciso um esforço maior!

(José Henrique P.e Silva)

sábado, 2 de agosto de 2014

Roxy Music: aspectos de sua trajetória

Outro dia, buscando algo para assistir na TV, passando de um canal para outro, meio que freneticamente, encontrei um documentário sobre a banda Roxy Music. Logo esbocei um sorriso pois não é nada fácil se encontrar algo sobre a Roxy. Bem, vale a pena registrar aqui algumas coisinhas. 

Foi uma banda muito legal e que acompanhei durante bom tempo ainda no início de minha adolescência. Naqueles momentos em que era tão difícil encontrar um disco e que, pra ser fã, voce tinha que fazer muito esforço mesmo, pois não haviam as facilidades trazidas pela globalização e pela internet. Alguns de seus integrantes (Ferry e Eno) eram da faculdade de Belas Artes em Newcastle, alunos de Richard Hamilton, uma espécie de Andy Warhol inglês, um guru do pop e da arte como colagem. E o que a Roxy Music fez foi justamente uma estreita ponte entre essa arte pop e o rock, tentando criar uma nova espécie de "arte popular". Seus membros? Bryan Ferry, Andy Mackay, Brian Eno, Paul Thompson (baterista), Graham Simpson, Phil Manzannera. Depois vários outros vieram.

Eram excêntricos? Claro que sim, mas não somente no visual. Principalmente, na música. Exploravam estilos musicais diferentes, sempre encontrando espaço para romantismo e sensualidade. Isso, sem dúvida, sempre foi a cara do Bryan Ferry.

O primeiro LP "Roxy Music" sai em 1972. Aquele com uma modelo na capa. É interessante lembrar como muitos diziam que se tratava de Glam Rock, ou seja, pura cafonice. Mas, era diferente. Não era só visual excêntrico. Neste álbum, por exemplo, o destaque para "If There is Something" que, em 2008 foi parte da trilha musical do excelente filme "Reflexos da Inocência", cujos dois atores, adolescentes, tentam recriar um pouco do clima que era muito próprio da banda. O segundo álbum, "For Your Pleasure", veio no anos seguinte, 1973. Destaque aqui para a música "In Every Fream Home a Heartache".

Depois vieram outros, mas as trocas de integrantes aumentaram, o ego de Ferry inflou, ficaram anos sem gravar nada. Mas, ficava clara sua influência sobre o Punk Rock e, depois, sobre os "novos românticos", como Duran Duran e outros mais.

No início era um rock de vanguarda com forte apelo popular, pós-hippie e fortemente melódico. Com o tempo, era mais que natural, que Ferry se voltasse para o romantismo. Ficou ainda mais melódico, mas a batida forte do rock permaneceu. Um exemplo? O solo de guitarra de Manzanera em "Jealous Guy", música escrita por John Lennon, mas que se transformou em uma música "da" Roxy Music.

Cada vez mais a voz de Ferry ia se sobrepondo a tudo e todos. A "banda" foi desaparecendo. Certamente Ferry tinha um projeto desde o início, e nunca o abandonou, ou melhor, foi conhecendo-o e construindo-o ao longo do tempo, independente das formações da banda. Em 2001 reuniram-se para tocar de novo. Enfim, foi uma época em que muitas bandas do rock clássico estavam fazendo isso. Em 2005, até Brian Eno volta para a gravação de um novo disco. Foi uma experiência mágica para todos. Tudo era como há 30 anos atrás. E a platéia agradecia. O mundo do rock agradecia. Eu agradeci muito.

Muitos, nos anos 2000, diziam que a volta de velhas bandas não era mais que a incapacidade de velhos rockeiros conviverem com a idade e com o tempo que passou. Talvez, mas prefiro acreditar que eles nos dão uma nova chance... uma chance conhecer e reviver a boa música e não ficarmos presos à esse "rebaixamento cultural" tão típico dos últimos 20 anos. Nenhum desprezo pelo que se tem feito atualmente, mas os caras de antes merecem toda a reverência! Os de hoje, pra ocuparem seu espaço, precisam se esforçar mais! bem mais!

(José Henrique P. e Silva)

Kierkgaard: um filósofo da existência e da subjetividade!

Um tempo atrás, passando em frente à banca de revistas, notei o nome de Kierkegaard (1813-1855) estampado em uma publicação (edição 179 da Revista CULT) que, melhor folheando notei trazer um dossiê sobre os 200 anos deste “filósofo da existência”.

Não sou um leitor assíduo de Kierkegaard, mas sempre que leio algum trecho de sua obra, ou sobre ele, fico entusiasmado, e dessa vez não foi diferente, li os artigos trazidos pela revista e gostaria de compartilhar uma síntese aqui. Claro que vou me eximir de maiores comentários e só me deliciar com as observações trazidas que, para mim, tão fortemente influenciado pela psicanálise, são tentadoras.

Em primeiro lugar, são vários os clichês voltados para Kierkegaard, e quase todos o associando ao “existencialismo”, a um “crítico de Hegel” ou a um “destruidor da razão”. Tudo isto motivado por considerações como a que dizia que Hegel construíra um palácio racional suntuoso, mas continuava a morar no casebre dos fundos, pois sua filosofia não dava conta da vida e daquilo que torna alguém um indivíduo, sem se perder em abstrações. Kierkegaard sentia falta da “experiência humana” deste indivíduo que, em Hegel, se universalizava. É a busca desta narrativa "vivida na carne", deste tipo de biografia, que o fascina.

Mas, que método Kierkegaard utiliza para desenvolver seu pensamento? Ele é um crítico voraz, mas não destrói o que critica, pois sempre reconhece aquela “força” que pulsa mesmo naquilo que considera equivocado. Por isso, suas construções conceituais não têm pretensão sistemática, já que denuncia como "ilusão" acreditarmos que se pode explicar tudo através de uma ordem lógica. 

Porém, não se trata de criar-se outra ilusão, a da “certeza da dúvida”, mas de assumir a “ironia socrática” como capacidade de negação ilimitada para olhar o indivíduo em sua existência e não simplesmente através de conceitos, admitindo-se a precariedade intelectual da vida, mas buscando-se sempre seu sentido. Ou seja, o ato de duvidar não pode permitir que a vida escape por entre os dedos.

Dessa forma, fundamentalmente preocupado com a "subjetividade" Kierkegaard acabou enveredando-se por três grandes grupos de temas de estudo: 1) a investigação de “tonalidades afetivas”, como a angústia e o desespero; 2) a análise dos estágios da vida (a estética/sensibilidade, a ética/dever, e a religião/vínculo entre o homem e seu destino divino) sob o ponto de vista da existência; e, 3) o estudo da linguagem, centrando-se na investigação da comunicação, do silêncio e da subjetividade daquele que fala.


Como tinha dito acima, o dossiê trouxe contribuições de professores da Unisinos e de Juiz de Fora. Vejamos os principais pontos. 

Seria Kierkegaard, de fato, um apologista do “absurdo”, do "irracionalismo", ou isto seria mais um clichê simplista? Como tudo isto começou? Em 1841, logo após defender sua tese sobre a ironia socrática, fez uma viagem a Berlim. E foi lá que passou a ouvir falar de Trendelenburg, um forte opositor da lógica de Hegel, sob o ponto de vista kantiano. Mais tarde, passaria a admirá-lo e, pasmem, admirou-se também pelos seus estudos sobre as “categorias”. Mas, como isso poderia interessá-lo? Como oportunidade de exercer sua crítica sobre o próprio significado de “categoria” e de “existência”. É o início do questionamento da “lógica”. O fato de se interessar pelo "contrário" é senpre uma excelente oportunidade para Kierkegaard exercer sua crítica. E isto talvez tenha confundido muitos de seus críticos.

Mais tarde, no debate entre Jacobi e Lessing, mais uma vez para surpresa de muitos, Kierkegaard fica ao lado deste último mas, ainda assim, revela-se “cristão” como Jacobi. Como isto teria se dado? Por que, ao final da vida, Kierkegaard diz-se, entretanto, um não cristão? Antes, é preciso entender que, para ele, havia a diferença entre “ser cristão” e “tornar-se cristão”. Entendendo isto, entende-se a admiração por Lessing, que, para Kierkegaard ocupava uma posição semelhante à de Sócrates, modelo de um pensador subjetivo, que pratica a interioridade, o questionamento.

Assim, quando Jacobi, fortemente religioso, teme que Lessing tenha sido levado pelo ateísmo, tenta mostrar que através do “salto mortal” nos libertamos do intelecto e alcançamos a fé. Kierkegaard, apesar de ser um homem religioso, rejeita esse "salto", assim como Lessing. A ideia de um "salto" parece não adequar-se ao processo de “tornar-se” cristão, isto sim expressão de uma autêntica subjetividade.

Para Kierkegaard, portanto, a fé é uma atitude subjetiva, que exige a interioridade, mais que a exterioridade. E é aí que Lessing parece levar vantagem sobre Jacobi aos olhos de Kierkegaard. Fazendo uso da réplica socrática, carregada de ironia, Lessing recusa o “salto mortal” e ganha a admiração de Kierkegaard. Abaixo o exemplo da “réplica” socratiana.
Lessing: Não é de todo mau seu salto mortal e compreendo que um homem inteligente possa baixar a cabeça desse modo para sair à frente. Leva-me contigo, se é possível.
Jacobi: Naturalmente, se queres conhecer o ritmo que me move.
Lessing: Para isso precisaria também saltar, mas já não posso pedir esse salto a minhas velhas pernas e à minha pesada cabeça”
É este modo “justo” de se comportar em relação à religião que encanta Kierkegaard. Lessing estaria convicto que sua religiosidade só interessava a ele e a Deus, e isso exigiria reconhecer a dimensão do silêncio. Ele apenas esforçava-se para ser como devia ser, num “esforço constante” verdadeiramente humilde. Esta seria a essência de um pensador subjetivo, que não está preso a uma verdade objetiva, ao discurso direto, ambos quase sempre presos a dogmas definitivos e alienantes. Por isso, Kierkegaard recusava “dizer-se” um cristão. Estava sempre tentando “tornar-se” um cristão.

Como situar Kierkegaard em relação à sua época? São justamente as reflexões sobre a interioridade e a existência que colocam Kierkegaard à frente de seu tempo. Sua busca em compreender essa passagem do “não ser” ao “ser” é um referencial de contemporaneidade, mas também da antiguidade. Por isso rejeitava a pretensão dos pensadores de sua época em elaborar sistemas filosóficos capazes de abarcar e compreender toda a realidade. Esse “ideal” era muito distinto do de Sócrates, que buscava sempre distinguir aquilo que compreendia daquilo que não compreendia.

Nesse aspecto, Sócrates e o cristianismo se parecem. Enquanto este pede ao indivíduo que se reconheça como “pecador”, Sócrates pede que reconheçamos a própria “ignorância” como caminho para a sabedoria – de fato, ambas as atitudes são reconhecimentos das limitações humanas. É daí que nasce o conceito de “paradoxo absoluto” em Kierkegaard.

Trata-se de uma ideia que envolve a constatação de que a razão é um instrumento necessário, mas não suficiente para o conhecimento da verdade. Seria impossível um homem ensinar a verdade a outro, nenhum homem é mestre de outro homem. No máximo, a tarefa é de auxílio a trazer a sua verdade à tona. Não há uma relação de ensino e aprendizagem. É justamente essa rejeição da possibilidade de compreensão racional da realidade em seu todo que distingue Kierkegaard de seus contemporâneos modernos e o torna contemporâneo dos antigos, como Sócrates, ou dos existencialistas atuais. Ele demonstra que estar adiante de seu tempo pode muitas vezes demandar um olhar ao passado e uma apreciação de ideias que são por muitos, ou até mesmo pela maioria, julgadas obscuras ou superadas.

Mas, e sobre a fé, qual a concepção de Kierkegaard sobre a fé? Ele vai contra aquela tradicional tese de que a religião nega o tempo, a finitude e o corpo, aspectos da existência humana, como se religião fosse algo exatamente oposto ao mundano. Mas, como faz isso? Qual a sua noção de "fé"? Para explicar, ele parte do episódio em que Abraão parte para o sacrifício do filho, sob as ordens de Deus.

Antes de subir ao monte, Abraão teria dito a seus servos: "eu e o rapaz iremos lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós". Assim mesmo, no "plural", "voltaremos". Mas, se havia uma ordem de Deus, como esperar que voltassem os dois? Pela "esperança", que não é uma certeza objetiva, mas uma aposta existencial. A fé envolveria, então, um duplo movimento: despojar-se de tudo (resignação) e, ao mesmo tempo, manter a esperança de reaver o que foi renunciado. Ou seja, ao nos despojarmos da temporalidade, do corpo e da finitude, temos sempre a esperança de os reaver. É neste sentido que, para Kierkegaard, 
aquele que aprendeu a abrir mão da realidade e, posteriormente, a ela retornou, tem muito mais deleite com a realidade do que aquele que nunca aprendeu a abandoná-la.
Nesse sentido, a fé não é mera resignação da realidade, mas sua "ressignificação". Pode-se entender melhor ainda, por exemplo, na relação que ele faz entre as polaridades "infinito" e "finito", uma das que marcam a existência do homem. O problema não é a existência da polaridade, mas o fato de estarmos sempre nos apegando a um pólo ou outro da relação. É essa "fixação" em um dos pólos que ele chama de "desespero". Trata-se, em função disto, de uma atitude contrária ao "tornar-se si mesmo". Negar um dos pólos é "desespero", "egoísmo", uma "doença do espírito". Não aferrar-se a um dos pólos, mas também não fugir a eles, é o desafio da existência, é tornar-se livre, é tornar-se "si mesmo".

Assim percebemos todo o potencial crítico de Kierkegaard, que nos impele a viver e entender o contrário no sentido de uma busca por aperfeiçoamento. Apegar a um pólo, desconhecendo o outro é algo da ordem do não reconhecimento deste mesmo outro, e de si mesmo. O "tornar-se si mesmo", então, é um processo que implica subjetividade, mas nesta subjetividade o outro não é excluído, não desaparece.


Sem dúvida, a crítica de Kierkegaard é contemporânea, afinal de contas este exercício crítico para tornar-se si mesmo é algo que está perdendo o terreno para o narcisismo que desconhece o outro, em nossa atualidade.


(José Henrique P. e Silva)

"Não sou neurótico...sou assim mesmo!"

Durante muito tempo a neurose foi retratada como no seguinte exemplo: uma pessoa absolutamente "normal" de súbito, em momentos de crise, era transtornada por impulsos ou atos inadequados que faziam irromper a neurose, com todos os seus sintomas. Assim, a pessoal "normal" era invadida pela "neurose".

Tudo isso é só um estereótipo mesmo e muitos filmes retrataram a neurose dessa forma. Mas, ao contrário disso, o que predomina, principalmente hoje em dia, é a quase inexistente fronteira entre a personalidade "normal" e o sintoma ("ato ou pensamento inadequado"). O que predomina mesmo é uma situação onde a "irrupção" praticamente não tem como acontecer, de tão fortemente "misturada" que se encontra à "personalidade". É nesse sentido que todos parecemos mais "neuróticos" e "normais" ao mesmo tempo! 

Não tenho dúvidas que isto dificulta em muito a própria pessoa perceber seu sofrimento cotidiano, pois este não "surge" mais como algo "diferente" que irrompe em determinados momentos de crise (a não ser em casos críticos mesmo). O sofrimento está ali, bem escondido, fazendo com que a pessoa praticamente não note nada de "estranho" em si. 

Talvez isso ajude a entender porque boa parte dos "neuróticos" está em busca de alternativas muito mais rápidas de tratamento (e existem às dezenas), ou válvulas de escape, que lhe garantam algum tipo de bem-estar, ainda que não duradouro. A beurose está deixando de ser algo "diferente" e está se misturando ao "normal"!!! 

(José Henrique P. e Silva)

O poder corrompe?

Me parece que é de Lorde John Acton (historiador inglês do século XIX) a frase "o poder tende a corromper; o poder absoluto corrompe de maneira absoluta". E essa frase sempre deu margem a interpretações diversas. Parece, à primeira vista nos levar a crer que somos corrompidos à medida que alcançamos o poder. Mas, confesso que tenho dificuldades em aceitar isso. 

Não sou Rousseauniano para acreditar numa suposta "natureza bondosa" do homem e sua corrupção pelas instituições. Também não sou um Hobbesiano para acreditar que o homem possui uma natureza essencialmente "má". Minhas leituras de Freud, por exemplo, me dificultam enxergar esse homem naturalmente "bondoso" ou "mau". O que vejo é um homem cindido, dividido, que traz em si elementos de generosidade e de puro egoísmo. 

O "poder", então, me parece, só corrompe àqueles que permitem-se corromper. Não somos "invadidos" pela corrupção, somos apenas "lembrados" por ela que podemos ser corruptos se assim o quisermos. Por isso tenho dificuldades em culpar o "poder" pela corrupção. Ela é muito mais própria do "homem" em sua natureza. Não à toa, sempre acreditei muito mais em legislações, em regras, em transparência, em mecanismos de controle, do que na suposta "ação bondosa" de políticos. Não quero ser refém da crença no "bom homem", "liderança excepcional", "salvador da pátria", prefiro ter uma situação institucional que limite e controle essa tendência do homem em abusar do poder. É muito mais democrático e não nos deixa ficar esperando pela "bondade" de políticos!


(José Henrique P. e Silva)