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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

06.08.2014 - O medo de dizer "não"!

Se tem um terreno pantanoso e perigoso de se caminhar é o da educação dos filhos. Seja para quem educa, seja para quem quer conversar a respeito, nunca é fácil lidar com a situação. Mas, a despeito dos riscos há sempre algo que pode ser dito e, quem sabe, melhorarmos nossa atenção e atuação. Eu, por exemplo, confesso que as vezes me pego surpreso com as buscas por uma espécie de "manual de orientações" para a educação dos filhos. 

Parece que esta busca tem sido mais que comum hoje em dia, tempos em que as "intuições naturais" e os "velhos modos" de se lidar com a questão parecem ter sido abandonados em prol de uma extrema dependência de "conselhos" de profissionais, a voz de "autoridades" (psicólogos, professores, pediatras etc.), o que leva a um abandono de si mesmo e em todo o conhecimento já adquirido.

Mas, vamos lá. Um exemplo bem claro disso está naquela situação que, para muitos pais, vira sinônimo de uma quase "desgraça": dizer um "não" para o filho! Tudo bem, é claro que é difícil dizer um "não", afinal, quem quer "magoar" um filho? Quem quer vê-lo "triste" por qualquer motivo que seja? Mas, a questão é que este "não", por vezes, é uma demanda do próprio filho. A criança as vezes não só precisa ouvir a palavra, como parece nos exigir que ela lhe seja dirigida. 

Por incrível que parece dizer um "não" a um filho parece nos fazer sentir "fracos". Não é fraqueza. Talvez seja algo mais próximo do medo de "falhar". Mas, por falar em fraqueza, o que a criança não precisa mesmo é de pais "fracos". Mas, além de pais "fracos", ela não precisa também só de pais "amigos". O que ela precisa mesmo é de "pais"! Pais que estejam dispostos a assumir suas funções mais simples e naturais. Aquelas funções de atender às duas necessidades fundamentais às crianças: acolhimento e limite

Quando uma destas duas necessidades falta em demasiado é praticamente certo o surgimento de dores de cabeça mais sérias. Ora, então as duas únicas coisas contra as quais devemos ser muito críticos, e nos precaver, é a violência (física ou psicológica) e o déficit de afeto. Fora isso, existem mil possibilidades de relacionamentos entre pais e filhos e cada uma com o seu próprio e merecido valor, pois não existem pais iguais e nem filhos iguais, onde um sirva de modelo para o outro.

É claro que a "educação" acontece entre a autoridade e a flexibilidade, e justamente por isso pretender encontrar uma "fórmula ideal" é pura perda de tempo. Como encontrar o ideal no "entre", no "meio caminho"? Não dá! O "ideal" nada mais é que aquele encaixe que está sempre à beira de um "clic", pois está sempre sendo desafiado pelas circunstâncias da realidade. Então, por exemplo, ser "amigo" do filho não significa que, em determinados momentos, não tenhamos que ser duros ao impor um limite e sustentar uma posição. É assim, com afeto e limites que a criança vai se estruturando, e vamos conseguindo realizar nossas funções.

Não precisamos ter vergonha em dizer "não" para um filho. O que é vergonhoso mesmo são as agressões e a recusa ao afeto. A trilha da educação não é a de uma estrada bem pavimentada. É uma trilha mesmo, daquelas cheias de armadilhas mas, é em meio a esses percalços que vão se dando os momentos de amizade, momentos de afeto, momentos de impor limites. O que não dá é para "pasteurizar" nossos comportamentos como pais e adotarmos recomendações como se fossem "receitas" que servem para todos e para todas as ocasiões. Não tem jeito! Assumir as funções de pais nos exige mergulhar nas situações do cotidiano de nossos filhos. E, nesse processo, temos que deixar mais espaço para os instintos, para o que é natural, para o que aprendemos com a vida e com outras gerações anteriores. Não precisamos nos robotizar para fantasiar a ideia de que vamos fornecer a educação "ideal" para nossos filhos. Essa educação não existe e, nessa busca só perdemos a naturalidade e entramos no perigoso terreno da paranóia!

O que pouco se conversa, entretanto, é sobre as razões pelas quais não se está conseguindo dizer "não" aos filhos. Aí temos que olhar para nós mesmos e nos perguntarmos sobre este porquê, afinal de contas, que medo é este que nos impede de mostrar limites nos nossos filhos? Claro que vendeu-se, durante um bom tempo, a ideia de que o "pai amigo" seria o substituto ideal do "pai bruto" da geração passada. O problema é que nem sendo "bruto" nem sendo "amigo" se garante, necessariamente, as duas faces da moeda tão necessárias à crianças: os limites e o afeto. O "bruto" e o "amigo" são apenas variáveis de nossa dificuldade em lidar com esta tremenda tarefa de, com amor e cuidado, mostrar os melhores caminhos e riscos para nossos filhos, sem nos sentirmos culpados por nada!

"Limites". Parece uma palavra banida do dicionário. Parece uma palavra que nos assusta, que agride, que impede o próprio desenvolvimento, que tira a liberdade. Besteira! Nada tira mais a liberdade de uma criança que não poder contar com a necessária margem que o cuidado e a atenção dos pais oferece à seus ímpetos. Não é o "limite" que freia a criança em seu desenvolvimento e a falta dele que não lhe dá parâmetros para saber como buscar e como ser livre, de fato. Por que, então, o medo de dizer "não"? Nenhum "não" é tão prejudicial à criança quanto a própria falta de "limites"!

"Educação ideal", "pai amigo", "fim dos limites"... manifestações de nossos medos em falhar. Mas, não precisamos ter medo de falhar. É claro que alguma coisa sempre escapará na educação dos nossos filhos e nos lamentaremos por isso. Mas, mostrando a eles que podem contar conosco (para protegê-los e para lhes ensinar a conquistar a liberdade necessária) chegará o momento em que eles nos liberarão dessa tarefa e poderemos, enfim, relaxar um pouco mais... Um pouquinho mais pelo menos rsrs!!!

(José Henrique P. e Silva)

domingo, 27 de julho de 2014

27.07.2014 - A necessária educação sustentada no afeto

O horário era o do almoço. Perto de umas 13:30. Eu estava sozinho almoçando em um local que gosto muito em Sampa, mais precisamente na Rua Augusta...ufa, que saudades daquelas esquinas tão democráticas, com todo tipo de gente e de gostos. Mas, vamos lá! Numa mesa próxima, um pai e duas crianças. Em determinado momento uma delas, a menor (talvez uns 5 anos), abre uma mochila, tira um brinquedo e o coloca sobre a mesa. O "problema" é que o brinquedo ao ser colocado e arrastado sujou a toalha que cobria a mesa. A reação do pai foi absolutamente desproporcional. Numa rápida reação esticou o braço, arrancou o brinquedo das mãos da criança, depois, com uma mão lhe segurou fortemente o braço, com a outra lhe colocou o dedo na cara e desfilou uma série de pequenas ofensas, com uma feição que beirava o ódio.

Ele parecia mesmo estar seguro de que realmente tinha feito a coisa certa, afinal estava dando uma demonstração pública de seu "cuidado" com a educação de seu filho. Ok, tudo bem! Parei de olhar e me voltei para meu próprio prato. Mas, logo em seguida, comecei a me chocar por outra coisa. A reação da criança! Ficou absolutamente calada, quase estática em seu lugar durante todo o restante do almoço. Parecia estar paralisada de medo. Sua obediência era exemplar. Nem um pio sequer, nem um esboço de movimento, difícil até perceber se ela levantava o rosto. E isso parece não ter causado nenhuma outra reação no pai, que parecia convencido de sua missão. Mas, e a criança, o que sentia? Vergonha, humilhação, impotência, insegurança, abandono?

Ver esta reação da criança me fez pensar em algo que as vezes parece tão óbvio, mas tão difícil de ser colocado em prática: Uma educação sustentada no afeto, e não na agressividade. Nós precisamos de uma casa e de uma família sadia para nos constituirmos emocionalmente fortes. Aí está o óbvio da questão, pois se trata de um princípio inquestionável. Mas, nunca é tão simples. Se tudo fosse tão simples, talvez a psicanálise e a psicologia nem existissem! E precisaríamos deixar de ser humanos também.

Claro que, depois de adultos, podemos recuperar parte do "estrago" que experimentamos na infância, mas poderíamos evitar muito desse sofrimento se existisse mesmo a luta e a disposição para transformar a família em um local de harmonia, onde o respeito ao outro (criança) deve prevalecer acima de tudo, e onde sempre haja motivo para o cuidado e o amor... só isso! Isso não significa ser passivo diante de uma atitude equivocada da criança, significa apenas que algo diferente deve ser colocado no lugar da agressividade e da ofensa. Esse pai, portanto, é exatamente o outro polo daquele pai submisso que, incapaz de colocar limites, ajuda na formação de "pequenas majestades".

Mas, é comum ouvir pessoas, principalmente de uma ou duas gerações passadas, dizerem que o "sofrimento nos fortalece". Isso já serviu como pano de fundo e justificativa para uma educação "tirânica" e carente de afeto. É lógico que a dureza da realidade está aí para nos ensinar algo. Mas, será que não podemos aprender de outra forma? Temos mesmo que agir de uma forma que beira a crueldade com os filhos? Quem disse que uma educação centrada no respeito e no carinho não torna uma criança muito mais forte e segura que uma educação centrada na simples severidade? Veja, não estou falando de limites. Isso é outra coisa! Estou falando de se negar afeto.

Ora, o sofrimento, se nos ensina algo, é sempre nos machucando, ferindo, causando dor. O máximo que ele consegue é nos "embrutecer" e isso não é ser "emocionalmente sadio". A realidade já será devidamente dura para todos nós e nossas crianças, mas pra que antecipar estes sofrimentos? Torná-la capaz de sobreviver à dureza da realidade não significa envolve-la em sofrimento desde cedo. Significa dotá-la de afeto, lhe dar a segurança de saber que é amada, pois é este afeto que a tornará forte para enfrentar a vida. Uma vida dura leva ao sacrifício de muitos afetos e, consequentemente, da felicidade. Então, acreditar que uma educação baseada no sofrimento ajuda a suportar melhor a vida é só reproduzir aquilo que se aprendeu e se recebeu: uma vida sem afeto! Nada mais que isso. Temos mesmo que reproduzir isso? E não adianta culpar quem nos causou algum sofrimento. A responsabilidade por mudar é nossa. Somente nossa!

Enfim, há poucas coisas tão terríveis na vida quanto ver uma criança que, na sua paralisia e medo, mostra todo o seu desamparo afetivo. Nessa hora, alguma lembrança pode vir à mente, você suspira fundo, se identifica com algo e logo percebe: não precisava ser assim! Podia ter sido de forma diferente! Mas, vamos em frente!!!

(José Henrique P. e Silva)

terça-feira, 17 de junho de 2014

Castração e Sociabilidade

Todo mundo sabe o que é castração né? De forma bem simples, é aquela interdição causada pela imposição de uma lei, de uma regra, de um limite. Isso que interdita, castra! Estamos falando, então, de um mecanismo que é inevitável ao neurótico (todos nós!!!) e bastante interessante pois é o que nos possibilita, em grande parte, sermos sociáveis, criar laço social, além de nos neurotizar, é claro. Para entender bem a castração é bom pensar, por exemplo, nos efeitos que uma LEI nos causa. Diante de uma lei nos "encolhemos", nos submetemos, sofremos um pouco por não poder realizar o que queremos mas, ao mesmo tempo, é esta restrição que nos leva a conviver socialmente. Imagina um trânsito de uma grande cidade sem regras, como seria a convivência social? Aceitar a lei nos faz sofrer mas traz a possibilidade do laço social. 

O neurótico não escapa à lei, sofre por ela ou a aceita. O perverso busca "driblar" a lei para o atendimento a seu prazer exclusivo e egoísta. O psicótico não teve a chance de ser interditado pela lei e se dissocia da realidade. É neste sentido que Freud tinha algo que o fazia enxergar no homem uma natureza primária agressiva, egoísta, que busca a realização do seu prazer mais imediato e de forma absoluta. A castração, então, tentaria impor limites a esses desejos, preparando o indivíduo para aceitar o outro e o seu desejo também!!! Simbolicamente, a castração ocorre quando um terceiro (o "pai" por exemplo) se coloca entre os dois que parecem estar numa relação fusional (mãe e bebê). Claro que isso ocorre de muitas formas, é só um pequeno exemplo bem simples!!!