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sábado, 26 de julho de 2014

O consultório como laboratório para a Psicanálise

A Psicanálise foi construída, em grande parte, a partir das experiências de Freud com os seus próprios pacientes. Era ali, em seu consultório, em meio às sessões que teorias foram criadas, reforçadas ou abandonadas. Um exemplo está narrado no documentário "A Invenção da Psicanálise" (1997), trecho em que fica claro o "nascimento" do divã e da maior atenção à "palavra". O trecho é narrado, em parte, por E. Roudinesco:

“...Quando Freud abriu seu consultório particular tratava essencialmente mulheres da burguesia vienense sofrendo de neuroses: doença dos nervos, neurastenia, histeria. Foi em 1889 que uma paciente, Fanny Mozer, ordenou que Freud se afastasse dela e não se mexesse. 

- Não fale comigo, não me toque. Escute-me, disse ela

- Abandonei a hipnose e mantive a posição deitada do paciente em uma cama atrás da qual eu ficava sentado, de modo a vê-la sem ser visto por ela, nos contou Freud tempos depois. 

Ele inventou o divã. Se retirou (para outra posição) para que a palavra se tornasse o ato terapêutico EM SI. Não haveria mais nada. Nem magnetismo, nem hipnose ou olhares. Só a palavra.

(José Henrique P. e Silva)

Psicanálise e Biofarmacologia

Qualquer um sabe que entre a psicanálise e a biofarmacologia existem encontros e desencontros. E é natural que seja assim, pois embora tratem do indivíduo elas o enxegam de ângulos distintos. Enquanto a Biofarmacologia, evidentemente, valoriza o sintoma, o corpo, o orgânico, o cérebro, o bioquímico, a Psicanálise enfatiza o PSÍQUICO e sua capacidade de afetar nossos pensamentos, ações e nosso corpo. Nunca vi motivos para uma rixa tão grande assim entre as duas disciplinas, pois a biofarmacologia, assim como a psicanálise, tem seu campo de atuação, suas conquistas. O porém que a Psicanálise coloca é quando a biofarmacologia tira do sujeito (através da medicação excessiva) aquilo que lhe é constituidor da identidade: A FALA. 

Dopar, manter em estado de torpor, pode ser um recurso útil em momentos de crise aguda onde a existência do sujeito está em risco, mas fazer disso uma prática de "cura" é só alcançar um mínimo "controle" que inviabiliza qualquer possibilidade de buscar alguma funcionalidade naquele sujeito. Mas, esta é uma discussão difícil. A sociedade e a mídia estão muito próximas da ideia de uma "cura" que venha exclusivamente através da medicação. Além disso, numa comparação simplista, o valor do tratamento inicial com fármacos antidepressivos, por exemplo, parece inferior ao da análise, embora esta, no médio e longo prazos apresente menor reincidência da depressão e efeitos mais duradouros, além de dotar o indivíduo de capacidade de enfrentamento à depressão. É um longo debate, e nenhuma solução virá como regra geral para todos. Até porque nem todos se adaptam às medicações e nem todos se adaptam à análise. O importante é manter o debate e oferecer ao indivíduo a possibilidade de escolher o que quer e o que pode fazer de si mesmo!!!

(José Henrique P. e Silva)