
A "VIDA REAL" QUE DESARMA O ESPÍRITO CRÍTICO!
Por vezes somos ferozes críticos da política do "pão e circo". E com razão, pois ela é mesquinha e manipuladora. E como parece ter estado em evidência ultimamente, ou sempre, sei lá!
Mas, o que ando me questionando é sobre o que autoriza alguém a agredir, ofender e chamar de "ignorantes" e "estúpidos" alguns grupos sociais que, pela sua extrema pobreza, dependem quase que exclusivamente de uma ajuda governamental ou mesmo de uma oportunidade de diversão patrocinada pelo dinheiro público?
Não estou aqui fazendo uma defesa do clientelismo ou do "coitadismo" como alguns chamam por aí. Não se trata disso! Estou olhando a questão por outro ângulo, o de alguns grupos que sequer imaginam-se participando de uma vida política.
Não é fácil, então, assumir uma postura "crítica". E precisamos saber bem para quem estamos dirigindo esta crítica pois a "vida real", em seu duro cotidiano, conspira contra nossa autonomia de pensamento, quanto mais à daqueles que sequer conseguem uma autonomia do corpo, da saúde, do alimento.
A "crítica" só é fácil quando não leva em conta a "vida real". Existem oportunistas em invasões de terreno? Existem! Existem oportunistas em programas sociais? Existem! Mas nada disso serve para se entender a "vida real".
E, pior, em tempos de eleição, as visões sobre o mundo ficam muito maniqueístas, dualistas, prisioneiras de uma suposta disputa entre o "bem x mal". Ora, as pessoas não são simplesmente "vítimas", ou "adeptas", do "pão e circo". As pessoas agem e pensam conforme sua capacidade de entender e lidar com a "vida real". E esta, muitas vezes, desarma qualquer espírito crítico, deixando falar mais alto a sobrevivência e os resquícios de uma chance mínima de ser feliz, ainda que por alguns instantes.
Ora, então, porque acusar o mais pobre de ser ignorante e manipulado se poderíamos dizer a mesma coisa a respeito da classe média que, em épocas de eleição aproveita o feriado para uma viagem ao litoral ou ao exterior?
O desafio, portanto, está sempre em se desvendar os movimentos dessa "vida real" e no que ela nos transforma. Só assim poderemos encontrar essa "identidade secreta" que nos une, mas nunca é tao aparente.
É o nosso desafio, o desafio daqueles que possuem melhores condições de olhar para a sociedade e traçar alguma análise minimamente coerente!
(José Henrique P. e Silva)
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